Literacia digital e pobreza: Colmatar o fosso através da Educação de Adultos


Autoria: Christin CIESLAK
Tradução: EPALE Portugal
Na última década, e em especial desde a pandemia de COVID-19, a tecnologia e a digitalização tornaram-se centrais nas nossas vidas. O que antes era um luxo é agora uma necessidade: o acesso à tecnologia e às competências digitais tornou-se essencial. Mas para muitos adultos que vivem na pobreza, o fosso digital não é apenas uma barreira; é um obstáculo que cresceu. Este fosso afeta muitos aspetos da vida, incluindo o acesso a serviços essenciais, à educação e a oportunidades de emprego. Embora alguns países europeus vivam esta situação de forma mais acentuada, trata-se de um desafio que afeta todo o continente. Nesta publicação de blogue, analisaremos a forma como a digitalização afetou as pessoas de contextos socioeconómicos difíceis e o que ainda é necessário fazer para corrigir esta situação.
Compreender o fosso digital
O fosso digital refere-se à fratura entre os que têm acesso fácil às tecnologias digitais e os que não têm. Este fosso pode ser influenciado por vários fatores, incluindo o estatuto socioeconómico, a localização geográfica e a formação académica. Na prática, isto pode significar um acesso limitado ou inexistente a computadores, à Internet ou às competências necessárias para navegar digitalmente, de forma eficaz. Em alguns casos, o problema pode ser a falta de infraestruturas digitais, enquanto noutros, os indivíduos podem ter o hardware necessário, mas não têm as competências ou o interesse necessários para utilizarem ferramentas e serviços digitais.
A importância da literacia digital
A literacia digital não se resume à capacidade de utilizar um computador ou um smartphone; trata-se antes de ter as competências necessárias para navegar online, compreender os conteúdos digitais e utilizar ferramentas digitais para resolver problemas. Assim, a literacia digital envolve o pensamento crítico, a proteção dos dados pessoais e a avaliação da informação online.
Porque é que tal é importante? Por um lado, tem impacto na forma como as pessoas acedem a serviços essenciais. Cada vez mais serviços governamentais, recursos de saúde e programas de apoio comunitário são disponibilizados online. Sem literacia digital, as pessoas têm dificuldade em aceder a estes serviços, o que pode constituir um obstáculo significativo.
Além disso, a literacia digital influencia a capacidade de participar na formação contínua. Atualmente, muitos cursos e recursos estão disponíveis exclusivamente online, oferecendo oportunidades de desenvolvimento pessoal e de progressão na carreira. Sem competências digitais, as pessoas podem perder estas oportunidades de aprender gratuitamente.
Por último, não esqueçamos o emprego. Muitas candidaturas a emprego e processos de recrutamento são efetuados online. Sem competências digitais, as pessoas podem perder oportunidades de emprego ou ter dificuldade em preencher candidaturas online. Mesmo quando os processos de candidatura continuam a ser conduzidos offline, as candidaturas online podem ser preferidas.
O que é que já foi feito?
Felizmente, vários programas de educação de adultos na Europa integraram com êxito a literacia digital nos seus currículos.
- Plataformas de aprendizagem online: Plataformas como a EUacademy e a EPALE foram criadas para proporcionar recursos, materiais e cursos online gratuitos destinados a melhorar a literacia digital. Estas ofertas são continuamente melhoradas para melhor responder às necessidades dos aprendentes adultos e para os ajudar a ganharem confiança na utilização de ferramentas digitais.
- Projetos no local: Tomemos, por exemplo, o projeto de literacia mediática na Palestina. Iniciado em 2015, este programa em curso visa promover a literacia mediática na Palestina (Cisjordânia e Gaza). Gerido pela Fundação Finlandesa para a Aprendizagem ao Longo da Vida , o projeto apoia o desenvolvimento da literacia mediática através da produção de materiais didáticos e da promoção do direito à informação. Profissionais e estudantes finlandeses dos meios de comunicação social voluntariam-se como formadores e o programa tem formado profissionais dos meios de comunicação social, trabalhadores de ONG e cidadãos ativos em vários aspetos da literacia digital e mediática.
- Investigação: Ao sublinhar o profundo impacto que a pobreza pode ter nas atividades educativas, os estudos demonstraram que os indivíduos que vivem na pobreza enfrentam frequentemente barreiras significativas à educação, o que os pode dissuadir de procurarem oportunidades de aprendizagem. No entanto, os dados também sugerem que a educação pode ser um instrumento poderoso para quebrar o ciclo da pobreza. Por exemplo, Paul C. Gorski descreve estratégias eficazes para apoiar os estudantes desfavorecidos e salienta como a educação pode proporcionar vias para sair da pobreza. Do mesmo modo, Colin Power e Rupert Maclean sublinham o papel da aprendizagem ao longo da vida na melhoria das condições económicas e na consecução do desenvolvimento sustentável. Para além destes, os estudos afirmam coletivamente que, embora a pobreza apresente desafios substanciais, a educação continua a ser uma alavanca crucial para a capacitação das pessoas e para a mudança estrutural.
- Política: A Declaração Europeia sobre Direitos e Princípios Digitais promove uma transformação digital centrada no ser humano, segura e sustentável, na Europa. Compromete a UE e os seus Estados-Membros a garantir que a tecnologia beneficia todos, apoia o acesso universal à conetividade digital e à educação, permite escolhas informadas online e promove ambientes online diversificados e multilingues. A UE comprometeu-se a dar um impulso de 250 mil milhões de euros à digitalização através do fundo NextGenerationEU, com o objetivo de que 80% da população da UE tenha competências digitais básicas até 2030. Além disso, 43 mil milhões de euros de investimento baseado em políticas irão apoiar a Lei dos Chips até 2030, reforçando o compromisso de fazer avançar as infraestruturas e as competências digitais. Este quadro político orienta a estratégia digital da UE e procura reduzir o fosso digital.•
Apesar de sabermos tudo isto e de inúmeros esforços, continuamos a enfrentar desafios significativos
- Acesso à tecnologia: É fundamental garantir que as pessoas tenham acesso a computadores e a uma Internet fiável. É crucial porque determina, em primeiro lugar, a sua capacidade de aderirem a serviços digitais e a oportunidades educativas. Sem acesso, todas as competências digitais no mundo não terão qualquer importância.
- Adaptação de programas: Os programas de literacia digital têm de continuar a adaptarem-se às necessidades específicas das diferentes comunidades de educação de adultos. Isto significa ter em conta fatores como a língua, os antecedentes educativos e a exposição anterior à tecnologia.
- Apoio contínuo: A literacia digital não é uma competência que se domina uma vez e que se torna vitalícia. Não é como andar de bicicleta. Requer antes prática e apoio contínuos. Proporcionar oportunidades de aprendizagem contínua e apoio técnico ajuda as pessoas a manterem e a melhorarem as suas competências.
O caminho a percorrer
Abordar a intersecção entre a literacia digital e a pobreza não é apenas uma questão de disponibilizar tecnologia; trata-se da oportunidade de participar igualmente na nossa sociedade à medida que esta se desenvolve. Como vimos, a literacia digital é crucial para aceder a serviços essenciais, prosseguir na educação e garantir emprego – fatores-chave para ultrapassar a pobreza. Embora se tenham registado progressos significativos através de vários programas e políticas, continuam a existir desafios. O acesso à tecnologia deve ser garantido, os programas devem ser adaptados às diversas necessidades e deve ser prestado apoio contínuo para garantir a manutenção e o reforço das competências.
Ao investirmos em iniciativas de literacia digital, não estamos apenas a proporcionar formação tecnológica; estamos a capacitar os indivíduos para reformularem o seu futuro e escaparem ao ciclo da pobreza. Esta capacitação através da aprendizagem tem o potencial de colmatar lacunas, reduzir desigualdades e promover uma sociedade mais inclusiva. No entanto, temos de continuar empenhados em expandir estes esforços e de garantir que todas as pessoas, independentemente da sua origem socioeconómica, tenham oportunidade de prosperar num mundo cada vez mais digital.
Comentário
Digitālās pratības nozīme.
Strādājot par datorikas pasniedzēju pamatskolniekiem, tieši redzu, kā attīstās šī digitālā pratība jauniešos. Ņemot vērā, ka esam digitālā laikmetā, tad bez šīm prasmēm dzīvot ir grūti. 9 klases jaunieši jau mācās programmēšanu, nemaz nerunājot par pārējām lietām, kas ir mūsdienu skolēnu datorikas programmā. Pēc dažiem gadiem šie jaunieši ieies darba tirgū, un tiešā veidā sacentīsies ar iepriekšējām paaudzēm, laikmetā kurā bieži vien uzvar datorprasmes. Līdz ar to, šī plaisa šķietami tikai palielināsies, ja nekas netiks darīts.
Tehnoloģiju attīstība mūsdienās ir pārāk strauja. Tas attiecās ne tikai uz datora lietošanu, bet arī tehnoloģijām kas tiek lietotas ražošanā, un prasmēm, kas nepieciešamas lai ar šīm tehnoloģijām strādātu. Šīs prasmes viennozīmīgi ir nepieciešamas lai būtu konkurētspējīgs darba tirgū.
Arī senioriem trūkst digitālo prasmju
Es pilnībā piekrītu, ka pēdējos gados digitālās prasmes ir kļuvušas ārkārtīgi svarīgas. Ir arvien mazāk ērtu iespēju saņemt pakalpojumus klātienē.
Iesniegt gada ienākuma deklarāciju, pieteikties pensijas pārrēķinam, dažāda veida pabalstiem vai vienkārši pierakstīties pie ārsta var, aizpildot tiešsaistes pieteikuma formu. Tomēr ne visi ir spējīgi to izdarīt. Gados vecajiem cilvēkiem tas var būt ļoti grūti.
Daudziem senioriem ir viedtālruņi, kurus viņi izmanto, lai fotografētu, sūtītu bildes un ziņojumus. Daži pat prot veikt tipveida maksājumus internetbankā. Tādējādi nevar runāt par digitālo prasmju pilnīgu neesamību. Bet bieži šie seniori ir tie, kuri brauc cauri visai pilsētai uz slimnīcas reģistratūru, lai pieteiktos medicīniskiem pakalpojumiem. Viņi ir tie, kuri atsakās bankā saņemt bezmaksas Smart-ID aplikāciju, bet pērk kodu kalkulatorus, kas kļūst arvien dārgāki. Viņi maksā par rēķinu saņemšanu papīra formātā.
Labi, kad šiem cilvēkiem ir bērni vai mazbērni, kuri var palīdzēt, izskaidrot, varbūt pat iemācīt lietot nepieciešmus digtālus rikus. Bet ko darīt citiem?
Atbalsts senioriem digitālo pakalpojumu izmantošanā
Paldies par Jūsu komentāru! Jūs lieliski aprakstījāt problēmu, ar kuru saskaras daudzi vecāka gadagājuma cilvēki. Lai gan digitālās prasmes kļūst arvien nepieciešamākas, ne visi spēj apgūt tehnoloģijas, un bieži vien tieši šīs grupas ir visneaizsargātākās.
Tāpat kā Jūs teicāt, pat tad, ja ir piekļuve ierīcēm, dažreiz trūkst atbalsta vai resursu, lai izprastu visu digitālo iespēju klāstu. Ir svarīgi izveidot atbalsta tīklus un nodrošināt viegli saprotamus risinājumus, lai tehnoloģijas kļūtu pieejamas un draudzīgas ikvienam. Digitālo prasmju apmācība, kas ir pieejama visiem, varētu būt lielisks solis uz priekšu.
The digital divide and "the triple fault"
Thanks for this post. A nice reflection about "the digital divide".
I wrote, some time ago: "The digital divide, as a true reflection of the social divide, brings to the table a problem that I call “The Triple Fault”: 1. Lack of computing devices, 2. Lack of connectivity and 3. Lack of digital competence."
https://epale.ec.europa.eu/es/blog/la-triple-falta
Regards fom Spain,
Jesús Canca
Indeed!
Thank you, Jesús, for your thoughtful comment and for sharing your work on the "Triple Fault" concept. Your description of the digital divide aligns well with what we observe at EAEA. We see these three aspects—devices, connectivity, and digital competence—as critical barriers, especially for adults from marginalised or rural backgrounds.
Our experience underscores that tackling the digital divide requires not only addressing each of these dimensions individually but also considering their combined effect on social inclusion. The lack of digital skills, in particular, can be an ongoing challenge even with access to devices and internet connectivity. This comprehensive approach is why digital competence remains a core priority for us in advocating adult learning.
Thanks again for your insights, and we look forward to continuing this important discussion on creating a digitally inclusive society.
En viktig fråga!
En viktig fråga!