Automação e IA no mercado de trabalho português


Considerando quatro “terrenos de digitalização”, que traduzem graus distintos de exposição às mudanças tecnologias, este estudo, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, apresenta-nos oito mensagens principais e, destas, pelo menos metade fazem referência à formação, à qualificação e às competências.
O estudo demonstra que 35,7% do emprego em Portugal corresponde a profissões que não poderão ser substituídas pela automação. Do mesmo modo, também não irão retirar benefícios da digitalização.
No “terreno dos humanos”, não correndo o risco de substituição, são encontrados os trabalhadores de limpeza em casas particulares, escritórios e hotéis, técnicos de atividade física e agricultores qualificados.
No terreno das “profissões em colapso”, que concentra 28,9% da força de trabalho do nosso país, estão profissões como empregados de mesa e de bar, operadores de equipamentos móveis e cozinheiros. Estas profissões estão seriamente ameaçadas, correndo o risco de extinção.
Pelo contrário, no terreno das “profissões em ascensão”, as mais beneficiadas pela digitalização e com potencial para usufruir de ganhos de produtividade relacionados com a Inteligência Artificial, estão os professores do ensino básico, os educadores de infância e os especialistas em vendas, marketing, finanças e contabilidade. Este grupo representa 22,5% do nosso mercado de trabalho.
Porém, os autores deste estudo, coordenado por Pablo Casas-Aljama, Hugo Castro Silva, António Sérgio Ribeiro e Rui Baptista, também identificam 12,9 % de trabalhadores no “terreno das máquinas” e estes têm um futuro “mais difícil de antecipar.” Aqui são referidas profissões como “empregados de escritório, operadores de máquina do fabrico de produtos alimentares, empregados de serviços de apoio à produção e transportes”. Diz o estudo que “tanto podem usufruir como sucumbir à mudança tecnológica”.
Outra constatação do estudo prende-se com as disparidades salariais que são “significativas”, em especial entre as “profissões em ascensão” (com rendimentos mais elevados) e as “profissões em colapso” (em situação de vulnerabilidade económica).
Porém, para os autores do estudo, estas disparidades “podem ser mitigadas através de incentivos à requalificação e aquisição de competências que permitam aos trabalhadores nas profissões «em colapso» transitar para profissões menos vulneráveis e mais bem remuneradas”. Os autores frisam ainda que todo este processo de requalificação e de transição deverá incluir medidas de proteção social “que assegurem a estabilidade financeira dos trabalhadores durante o período de adaptação, minimizando o impacto da perda de rendimentos e incentivando a participação em programas de formação”.
De modo a dotar os trabalhadores com as competências necessárias para o mercado de trabalho do futuro, é igualmente defendido no estudo o alinhamento dos currículos académicos “com o uso e a aplicação das tecnologias de IA e a automação, fomentando parcerias entre a indústria e as instituições académicas”.
Ouro foco de atenção dos autores do estudo prende-se com a necessidade de se promover, através de formação e do desenvolvimento profissional, as competências interpessoais, como as de comunicação e criatividade, pois estas são vistas como essenciais para se garantir que os trabalhadores prosperem nas profissões menos suscetíveis à automação.
É ainda destacada a necessidade de implementar programas de formação contínua, bem como parcerias com instituições de ensino, evitando o “subaproveitamento de talento”. Além disso, é relembrada que a requalificação “é necessária tanto para os trabalhadores como para os gestores”.
