Necessidade de competências em mudança: como é que as pessoas se podem tornar empregáveis?
Autoria: Loris Vergolini
Tradução: EPALE Portugal
A procura de competências pelo mercado de trabalho é fortemente influenciada pelas mudanças tecnológicas, económicas, sociais e industriais. Para dar apenas alguns exemplos, ao longo das últimas décadas, temos testemunhado grandes melhorias e avanços na automação, na robótica e na inteligência artificial (IA). Ao mesmo tempo, assistimos também ao início da transição para uma economia de baixo carbono e à ascensão da gig economy. A OCDE (2017) refere-se a estas forças transformadoras, que têm o potencial de conduzir a mudanças de longo prazo na organização da sociedade e da economia, como megatendências. O conceito de megatendência pode ser útil na análise e antecipação das consequências destas mudanças, ajudando os decisores políticos a enfrentarem os desafios e a aproveitarem as oportunidades que apresentam.
É importante sublinhar que, embora estas mudanças tenham o potencial de criar valor em todos os setores e novas oportunidades de emprego, também irão afastar alguns trabalhadores. De acordo com um conjunto de simulações realizadas por Manyika e Sneader (2018), cerca de 15% da força de trabalho global corre o risco de ser afastada do emprego, entre 2016 e 2030.
Estas mudanças conduzem a uma mudança contínua nas competências exigidas pelo mercado de trabalho e abrem a porta ao conceito de necessidade de competências em mudança, que se refere à evolução contínua das competências exigidas pelo mercado de trabalho. É fácil pensar que o primeiro desafio está relacionado com o conceito de desajuste de competências, definido pela OIT (2020) como um desajuste entre as competências exigidas pelos empregadores e as competências detidas pelos indivíduos. As duas principais instituições envolvidas são a educação e o mercado de trabalho e, numa situação de desajuste de competências, é possível que as pessoas não tenham sido formadas com as competências exigidas pelo mercado de trabalho ou que a economia não seja capaz de criar empregos que correspondam às competências dos indivíduos. A OIT (2020) identifica quatro tipos de desajuste de competências, dos quais os três primeiros estão mais relacionados com a mudança da necessidade de competências:
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Lacuna de competências: os trabalhadores não possuem as competências necessárias para realizar o trabalho de forma eficaz.
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Obsolescência de competências: os trabalhadores perdem as suas competências devido à falta de uso ou a megatendências.
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Escassez de competências: os empregadores não conseguem encontrar trabalhadores com as competências adequadas.
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Excesso/Falta de qualificação: os trabalhadores têm competências superiores ou inferiores às exigidas para um determinado trabalho.
Como enfrentar os novos desafios?
Como podem os decisores políticos responder aos problemas de desajuste de competências e à evolução da necessidade de competências? Para enfrentar eficazmente a necessidade de competências em mudança, tem de se proceder à identificação das megatendências emergentes. Ao fazê-lo ajudaremos a compreender as competências que se tornarão mais importantes no mercado de trabalho e a implementar medidas pró-ativas destinadas a adquirir, desenvolver e atualizar essas competências. As ações que podem ser tomadas incluem a melhoria das competências (melhorar as competências existentes), a requalificação (adquirir novas competências para um trabalho diferente) e a participação na aprendizagem ao longo da vida para nos mantermos atualizados e adaptáveis face à evolução das necessidades da força de trabalho.
O primeiro problema é identificar as competências que serão cruciais no futuro próximo. Quais são as ferramentas e os instrumentos que os decisores políticos podem utilizar? A avaliação e a antecipação de competências é uma estratégia comum na análise do mercado de trabalho. Por exemplo, o Bureau of Labor Statistics, nos Estados Unidos, começou a incluir projeções sobre profissões nos seus manuais na década de 1960 (OCDE 2016), enquanto a União Europeia criou o Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional (CEDEFOP) em 1975 para apoiar o desenvolvimento do ensino e formação profissionais na Europa e ajudar os países a desenvolverem exercícios de avaliação e de antecipação de competências. A fiabilidade destes exercícios depende da quantidade e da qualidade da informação disponível, bem como da melhoria das ferramentas analíticas, o que varia desde inquéritos de competências convencionais e previsões de competências até métodos automatizados baseados em IA e big data (CEDEFOP 2021).
Assim que os decisores políticos tenham em mãos um conjunto de evidências empíricas fiáveis, que tipo de políticas deverão conceber para enfrentar os desafios da mudança de competências? De acordo com a sugestão de Manyika e Sneader (2018), existem pelo menos três áreas principais em que os decisores políticos podem agir:
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fazer avançar dos sistemas educativos;
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promover o investimento no capital humano;
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desenvolver instrumentos de proteção social.
A primeira área de intervenção envolve mudanças nos sistemas educativos nacionais que podem ser implementadas ao nível do ensino secundário. Seria importante envolver os empregadores na conceção dos currículos de ensino e formação profissional (EFP), uma vez que estão em melhor posição para garantir que estes estão em conformidade com as necessidades do mercado de trabalho e que há (ou haverá) postos de trabalho suficientes (OCDE 2017). Além disso, como a maioria das mudanças está relacionada com a automação, a robótica e a IA, uma solução possível poderia ser melhorar as competências STEM no ensino obrigatório.
A segunda área de intervenção está claramente ligada à primeira, mas é tratada separadamente por estar relacionada com a aprendizagem ao longo da vida. Conforme indicado no Sumário Executivo do relatório Skills Outlook da OCDE (OCDE 2021,16):
“A aprendizagem ao longo da vida é fundamental para que os indivíduos se adaptem e tenham sucesso nos mercados de trabalho e nas sociedades moldadas pela maior esperança de vida, pelos rápidos avanços tecnológicos, pela globalização e pelas alterações demográficas, bem como por choques repentinos como a pandemia da COVID-19.”
Tal como sublinhado pela OCDE (2021), ao conceberem políticas baseadas na abordagem da aprendizagem ao longo da vida, os decisores políticos devem ter em mente que esta requer uma perspetiva “ampla e vitalícia”, acompanhando os indivíduos desde o berço até ao túmulo. Num mundo em rápida mudança, a aprendizagem ao longo da vida é a melhor forma de dar resposta ao problema de as competências adquiridas na educação formal poderem tornar-se obsoletas mais rapidamente do que no passado. Isto pode ser particularmente problemático para a educação de adultos, uma vez que muito poucos adultos participam em atividades de aprendizagem formais ou não formais: 60% dos adultos altamente qualificados e apenas 20% dos que têm baixa escolaridade.
Como criar um sistema de educação de adultos ágil
Quais são as ferramentas políticas que podem ser utilizadas para criar um sistema de educação de adultos que seja verdadeiramente ágil às necessidades de competências em constante mudança? De acordo com a OCDE (2019), as principais alavancas que podem ser utilizadas enquadram-se em três categorias:
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orientação para os indivíduos;
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incentivos aos operadores;
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apoio aos empregadores..
A primeira categoria diz respeito à disponibilização de orientação e informação sobre necessidade de formação e do mercado de trabalho, especialmente para os trabalhadores mais vulneráveis ao afastamento profissional. Estes programas devem ser combinados com incentivos financeiros e dispensa ao trabalho para apoiar a participação. Ao mesmo tempo, os operadores de educação de adultos precisam de manter os seus cursos atualizados em resposta às necessidades do mercado de trabalho. Os operadores poderiam ser financiados de forma mais generosa se a formação ministrada fosse orientada para competências e profissões com maior procura. Dado que o local de trabalho é um espaço importante para a educação de adultos, os empregadores também devem ser apoiados para proporcionarem oportunidades de formação aos seus empregados (por exemplo, financiamento para contratar consultores externos para identificarem necessidades de formação e encontrarem um operador adequado). Isto é particularmente importante para as pequenas e médias empresas, que tendem a ter dificuldades em antecipar as suas necessidades de competências e em proporcionar formação adequada.
Por último, os decisores políticos devem também considerar a opção de utilizar instrumentos de proteção social para mitigar as potenciais consequências negativas (ou seja, o afastamento dos empregos) das mudanças tecnológicas e económicas. No caso de um aumento acentuado do desemprego, pode ser considerada uma transferência condicional ou um regime de rendimento básico para proporcionar uma rede de segurança aos trabalhadores afetados. Desta forma, estes trabalhadores terão o apoio necessário para se adaptarem à evolução da procura de competências.
Referências
CEDEFOP (2021). Understanding technological change and skill needs: skills surveys and skills forecasting. Cedefop practical guide 1. Luxembourg: Publications Office.
Manyika and Sneader (2018). AI, automation, and the future of work: Ten things to solve for. McKinsey Executive Briefing, accessed 21/08/2023 disponivel aqui.
OECD (2016). Getting Skills Right: Assessing and Anticipating Changing Skill Needs. OECD Publishing, Paris.
OECD (2017). Getting Skills Right: Good Practice in Adapting to Changing Skill Needs: A Perspective on France, Italy, Spain, South Africa and the United Kingdom. OECD Publishing, Paris.
OECD (2019). Getting Skills Right: Creating responsive adult learning systems. OECD Publishing, Paris.
OECD (2021). OECD Skills Outlook 2021: Learning for Life. OECD Publishing, Paris.
ILO (2020). What is skills mismatch and why should we care? Online article, accessed 21/08/2023 disponível aqui.
Sobre o autor
Loris Vergolini é Professor Assistente da Universidade de Bolonha e Investigador Afiliado do FBK-IRVAPP. Os seus interesses de investigação integram a avaliação de impacto contrafactual, com foco em políticas que visam a redução das desigualdades nas oportunidades educativas, o estudo das competências exigidas pelo mercado de trabalho e a estratificação social.
Comentário
@Endija Tarvāne, thank you…
@Endija Tarvāne, thank you very much for your comment. Certainly, the issue of skills mismatch could be addressed in compulsory education and at university, using the results of the research to design guidance programmes and to help universities design degree programmes.
Megatrends un mūžizglītība
Šis laikmets ir nepielūdzami pieprasošs, nedrīkst atslābt ne mirkli, citādi ātri var palikt 'aiz borta'. Raksts to nepārprotami apliecina. Megatendences/mākslīgais intelekts/strauja tehnoloģiju attīstība/pārkvalificēšanās un mūžizglītība- atslēgvārdi, ko paturēt prātā! Strauji mainīgajā pasaulē ikvienas profesijas pērstāvjiem ir būtiski neapstāties personīgajā un profesionālajā izaugsmē. No darba ņēmēju skatpunkta, atsevišķas industrijas ir šķietami apdraudētākas. Uzskatāms piemērs- pašapkalpošanās kases lielveikalos- kasieri nākotnē vairs nebūs nepieciešami. Un ne tikai- raksta autors Loris Vergolini norāda, ka 'Saskaņā ar Manyika un Sneader (2018) veikto modelēšanu, aptuveni 15 % pasaules darbaspēka no 2016. līdz 2030. gadam draud darba vietu maiņa.' Savā profesionālajā izaugsmē esmu viennozīmīgi sapratusi to, ka izglītība nebeidzas ar Diplomu plauktā. Piekrītu raksta autoram, ka mūžizglītībai ir izšķiroša nozīme, lai cilvēki spētu pielāgoties nākotnes tendencēm un gūt panākumus gan darba vidē gan sociumā. Noslēgšu komentāru ar piebildi, ka 'It takes two to tango!' Ar domu, ka politikas veidotājiem visnotaļ ir jāspēj nākt klajā ar efektīvu plānu kā risināt jaunos izaicinājumus, lai ikvienam profesijas pārstāvim būtu iespēja sevi pilnveidot un būt drošam par savu vietu nākotnes darba tirgū.
@Marta Batare, thank you…
@Marta Batare, thank you very much for your comment. I totally agree with you when you say that policy makers need to design policies and interventions to help people in the reskilling process. This is such an important issue that it cannot be left to personal initiatives.
Prasmju dažādošana ārpus savas darbības jomas
Izcils raksts ar lieliski aprakstītu situāciju un risinājumiem, taču šķiet, ka daļa no problēmas ir arī tas, ka cilvēki nedažādo savas prasmes un darbību jomas, kā teicienā, "visas oliņas atstāj vienā groziņā". Situācijā, kur daļēji vai pilnīgi cilvēku aizstāj iekārta, cilvēks nespēj noreaģēt un turpināt darbu citā jomā vai novirzienā. Manuprāt, būtu īpaši svarīgi atgādināt cilvēkiem, kas strādā ne tikai šajās riska industrijās, par nepieciešamību ne tikai stiprināt jau esošās zināšanas un prasmes, bet meklēt vēl citas darbības jomas, kurās brīvā laikā attīstīties. Kā piemērs varētu būt kodēšanas vai programmēšanas valodas apguve paralēli grāmatvedības vai dizainera darbam. Un otrais punkts, kas darbojas līdzīgā veidā - veicināt apgūt kādu valodu, kas ļautu strādāt ne tikai citā valstī, bet arī paverot jaunas iespējas vietējo uzņēmumu internacionālās vai reģionālās komandās.
@Paula Aleksandra Pasīte…
@Paula Aleksandra Pasīte-Muiteniece, thank you very much for your comment. Your suggestion about employer awareness in high-risk sectors is very sensible. Perhaps we should start talking in schools and universities about the fact that our skills can become obsolete. I also fully agree with the idea of learning a foreign language in order to become more employable. (https://epale.ec.europa.eu/en/blog/language-learning-key-skill-present-…).
The recognition of…
The recognition of megatrends as transformative forces shaping the economy and society highlights the urgency for policymakers to adopt a forward-looking approach. As technological advancements continue to reshape industries, the labor market undergoes continuous evolution, demanding a workforce equipped with the skills necessary for the future.Lifelong learning emerges as a pivotal component, requiring a holistic perspective that spans individuals' entire lives, acknowledging the rapid obsolescence of skills in the contemporary landscape.
@Aneta Vodičková, thank very…
@Aneta Vodičková, thank very much for your comment. Perhaps an alliance between policymakers and employers is needed to better address changing skills needs. I hope that initiatives such as the EPALE Year of Skills can help.
Attiecības starp darba tirgu un potenciālo darba ņēmēju
Vai mēs esam gatavi nākotnes darba tirgum un tā jau esošajām izmaiņām?
Šis raksts atspoguļo būtiskas tendences un problēmas, kas saistās ar prasmju un darba tirgus maiņu, kā arī piedāvā vairākas stratēģijas un virzienus, lai risinātu šīs problēmas.
Balstoties gan uz pieredzes stāstiem, gan publicētajiem pētījumiem, viena no, manuprāt, svarīgākajām problēmsituācijām ir neatbilstība starp darba devēju prasībām un darba ņēmēju esošajām prasmēm un zināšanām. Tas var novest pie darba vietu zaudēšanas un/vai prasmju trūkuma konkrētajās nozarēs.
Raksts atklāj vairākus būtiskus problēmu risināšanas virzienus: izglītības sistēma, tostarp mūžizglītība, politika. Jau skolas laikā mēs varam sagatavot jauniešus nākotnes darba tirgum, atklājot un attīstot jaunas prasmes un zināšanas. Arī pieaugušie, izmantojot gan formālās, gan neformālās izglītības iespējas, var tikt sagatavoti jau aktuālajam darba tirgum vai paaugstināt savu kvalifikāciju. Tikpat svarīga ir nepārtraukta un sistemātiska prasmju novērtēšana un prognozēšana, lai izstrādātu politikas virzienus. Lai noteiktu, kādas prasmes būs nepieciešamas gan tuvākā, gan tālākā nākotnē, ir nepieciešami ticami dati un to analīze.
Novērtēju Jūsu ieguldīto darbu, veidojot šo, tik svarīgo, saturu!