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Abandono da Educação Básica para Adultos

As elevadas taxas de abandono na educação básica para adultos revelam uma crise oculta. A confiança, a estabilidade e a reforma política são fundamentais.

skills

Autoria: Bernhard Schmidt-Hertha

Tradução: EPALE Portugal

 

Abandono escolar na educação para adultos

Porque é que os adultos terminam prematuramente a sua participação nos programas educativos? Trata-se de uma questão interessante, uma vez que a resposta fornece informações fundamentais para os processos de tomada de decisão no domínio da educação. No entanto, este tema só tem sido marginalmente abordado na investigação sobre educação de adultos. Após investigação significativa nas décadas de 1970 e de 1980, o tema tem aparecido esporadicamente.

Foi só em 2022 que Thalhammer et al. argumentaram, com base em resultados empíricos, que a interrupção da formação contínua é simplesmente uma revisão de uma decisão tomada devido a mudanças nas condições individuais e/ou organizacionais ou porque as expectativas não foram satisfeitas. Em muitos casos, estas interrupções têm poucas consequências para os aprendentes, embora pareça apropriado fazer aqui distinções entre diferentes áreas de educação de adultos.

A situação específica da Educação Básica para Adultos

Mais do que nunca, a educação básica é um pilar central da educação de adultos. A educação básica não se limita, de forma alguma, à leitura e à escrita, mas inclui também competências matemáticas básicas, competências digitais, conhecimentos económicos básicos e educação política básica. O último estudo do PIAAC (OCDE, 2024) demonstrou, mais uma vez, a necessidade urgente de programas de literacia e de educação básica para adultos, mesmo nos países da OCDE. Embora as pessoas com baixos níveis de literacia não sejam todas excluídas socialmente - muitas estão empregadas, têm famílias e participam ativamente na vida social (Grotlüschen & Buddeberg, 2020) - o risco de processos de exclusão é, no entanto, muito mais elevado para este grupo.

Neste contexto, a participação relativamente baixa de adultos pouco qualificados na educação de adultos pode ser vista como um desafio de política educativa, mas também como uma decisão individual consciente e legítima de não participar em oportunidades de aprendizagem organizadas. Contudo, a interrupção das atividades educativas entre este grupo-alvo, que já é difícil de atrair para a educação de adultos, parece ser particularmente problemática, o que levanta a questão das causas do abandono dos cursos na educação básica.

O projeto de investigação DrAG

Estes desistentes foram objeto de um projeto de investigação conjunto das universidades de Colónia e de Munique, financiado pelo Ministério Federal Alemão da Educação e Investigação (código de financiamento W1474AFO). O estudo utilizou uma abordagem de métodos mistos, envolvendo entrevistas a nove responsáveis pela educação básica em várias instituições, a treze professores, a quinze participantes e a seis desistentes, bem como um inquérito normalizado a 173 participantes (Bickert, 2024). Estes inquéritos foram complementados por uma revisão narrativa dos estudos existentes sobre o abandono da educação de adultos. As diferentes perspetivas dos atores envolvidos permitiram uma compreensão mais abrangente do abandono da educação de adultos no setor do ensino básico, tendo em conta os diversos pontos de vista.

Uma ligação especial entre aluno e educador

Um modelo teórico sobre o abandono na educação de adultos como um todo (Thalhammer et al., 2022) destaca o ajuste entre as necessidades individuais e os contextos de vida, bem como as condições institucionais da educação de adultos, como um critério central para o abandono ou para a permanência. Por conseguinte, o abandono ocorre principalmente quando este equilíbrio é perturbado por alterações nas circunstâncias individuais ou institucionais.

Esta dinâmica é também evidente no contexto do abandono escolar na literacia e na educação básica. As razões pelas quais uma oferta educativa deixa de ser considerada adequada incluem alterações na distância física (devido à mudança de instalações do operador de serviços educativos ou do aprendente), alterações no emprego ou nas circunstâncias familiares (Sindermann, 2023), mas também, muitas vezes, uma mudança de diretor do curso ou na organização deste. Isto tornou-se particularmente claro durante a pandemia de 2020-21, quando muitos cursos foram interrompidos ou continuaram de uma forma diferente (digital) (Bickert et al., 2022).

No entanto, o que é particularmente notável é a estreita ligação entre os participantes na educação básica e o respetivo diretor do curso. As mudanças e a rotação do pessoal, que são comuns neste domínio devido à precariedade das condições de emprego, estão associadas a um risco elevado de os aprendentes também terminarem a sua participação. Este facto deve-se, em grande medida, à importância de uma relação de confiança entre alunos e professores, que é frequentemente construída ao longo de meses ou mesmo anos (Bickert, 2024). Isto parece ser menos importante noutras áreas da educação de adultos. Não só as expectativas dos aprendentes, mas também o apoio proporcionado pelos professores, parecem ir além do que é habitual noutros contextos de educação de adultos:

"A [professora] também responde às necessidades de cada pessoa. Se tivermos um problema ou algo do género, ajuda-nos ou apoia-nos sempre" (I14, 91)

Em geral, há surpreendentemente poucas conclusões sobre a relação entre alunos e professores na educação de adultos como um todo (Schmidt-Hertha & Bernhardt, 2022). Este estudo fornece os primeiros conhecimentos sobre esta relação a partir de uma subárea específica.

Criar confiança

Os cursos de literacia e de educação básica diferem dos outros cursos de educação de adultos pelo facto de os participantes serem muitas vezes particularmente vulneráveis e necessitarem de apoio intensivo na sua aprendizagem. Em segundo lugar, a continuidade é particularmente importante para estes cursos de educação básica, nomeadamente em termos de pessoal. No entanto, a criação de relações de confiança entre professores e alunos exige condições de emprego estáveis, previsíveis e atrativas para limitar a rotação do pessoal neste domínio. Na Alemanha, as entrevistas com professores sugerem que o seu empenho na educação básica é motivado principalmente por razões altruístas, mas a remuneração é insuficiente para que possam viver do seu trabalho. Além disso, os modelos de financiamento com prazo fixo normalmente só oferecem aos professores garantias contratuais a curto prazo. Até à data, porém, não existem estudos comparáveis sobre as condições de emprego dos professores ou sobre as taxas de abandono dos alunos da educação básica noutros países europeus.

Referências

Bickert, M. (2024). “When my teacher quits, I'll quit too.” - A mixed methods study on trust and (dis-)continuation in adult basic education.  International Journal of Lifelong Education, 1-16. DOI: 10.1080/02601370.2024.2412590

Bickert, M., Arbeiter, J., Sindermann, L. & Thalhammer, V. (2022). Drop-out in der Alphabetisierung und Grundbildung Erwachsener – Pandemiebedingte Herausforderungen und theoretische Perspektiven. Zeitschrift für Bildungforschung, 12(1), 61-79. DOI: 10.1007/s35834-022-00338-6

Grotlüschen, A. & Buddeberg, K. (Eds.) (2020). LEO 2018. Leben mit geringer Literalität. Bielefeld: wbv.

OECD (2024). Do Adults Have the Skills They Need to Thrive in a Changing World?: Survey of Adult Skills 2023. Paris: OECD Publishing, https://doi.org/10.1787/b263dc5d-en.

Schmidt-Hertha, B. & Bernhardt, M. (2022). Pedagogical Relationships in Digitised Adult Education. Studies in Adult Education and Learning, 28(1), 11-24.

Sindermann, L. (2023). Frustration, care work, and the pandemic: Reasons for drop-out in literacy and adult basic education. Internationale Yearbook Adult Education 46, 99-114. DOI: 10.3278/9783763973910

Thalhammer, V., Hoffmann, S., von Hippel, A., & Schmidt-Hertha, B. (2022). Dropout in adult education as a phenomenon of fit: An integrative model proposal for the genesis of dropout in adult education based on dropout experiences. European Journal for Research on the Education and Learning of Adults, 13(3), 231–246. https://doi.org/10.3384/rela.2000-7426.3351

Thalhammer, V., Sindermann, L., Bickert, M., Mulliez, G., Schmidt-Hertha, B. & Schemmann, M. (2023). Understanding and Dealing with Drop-out in Literacy and Adult Basic Education. In L. Formenti, A. Galimberti & G. Del Negro (Eds.), New seeds for a world to come. Policies, practices and lives in adult education and learning. Proceedings of the 10th ESREA Triennial Conference (p. 462 - 463), University of Milano Bicocca. DOI: 10.5281/zenodo.8017866

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