Newsletter IA @ EDU #3


Newsletter Recortes sobre Inteligência Artificial na Educação
[edição #3 - junho'25]
Seleção ponderada, acessível e humanista sobre Inteligência Artificial na Educação
Link para a newsletter integral: https://recortesiaedu.substack.com/
Website principal: http://iaedu.joaopinto.net/
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✍️Editorial
Caras leitoras, caros leitores,
Chegámos à edição de junho! Está pronta para ser folheada com uma seleção de temas instigantes.
Logo a abrir, mergulhamos num estudo sobre como os chatbots de IA em jogos educacionais podem influenciar o desempenho académico.
Depois, propomos uma atividade de dramatização (role-play) potenciada por IA para estimular a empatia e o pensamento crítico; refletimos sobre a Literacia em IA e a urgência de formar utilizadores críticos desde cedo; partilhamos o debate divertido e inquietante em torno do pedido de desculpas escrito pelo próprio ChatGPT; testamos o NotebookLM como assistente de investigação e para organização de notas; enfrentamos o dilema de distinguir textos humanos de textos gerados por IA; e ainda refletimos, pensando alto, sobre a disrupção provocada pela IA.
Nesta edição, também damos voz a quem nos lê: um leitor escreveu-nos com um comentário pertinente e atual. Vale a pena ler!
Quase no fim, ainda trazemos a perspetiva de Jorge Rio Cardoso sobre os desafios e promessas da IA na educação.
E, claro, celebramos os Santos Populares com quadras bem-dispostas para fechar em festa.
Boas leituras!
João Pinto | www.joaopinto.net

*Imagem gerada pelo Gemini com a prompt “Cria uma imagem ilustrativa da IA numa sala de aula do futuro”
🔍 Leituras com Lupa:
Um chatbot de IA integrado num jogo digital educativo melhora o desempenho académico?
Artigo: The Impact of a Digital Game-Based AI Chatbot on Students’ Academic Performance, Higher-Order Thinking, and Behavioral Patterns in an Information Technology Curriculum
Xu et al. (2024)
De que falam: Os autores comparam duas turmas com diferentes abordagens tecnológicas: um grupo utilizou um chatbot de IA integrado num jogo digital educativo; e o outro, um chatbot tradicional baseado em texto. Verificou-se que o grupo que utilizou o jogo digital obteve resultados significativamente superiores em termos de desempenho académico e pensamento crítico, para além de evidenciar maior motivação e envolvimento. Adicionalmente, o chatbot gamificado também forneceu um feedback imediato e sugestões contextuais de forma lúdica, contribuindo para uma maior participação. No entanto, não se registaram melhorias significativas ao nível da criatividade dos alunos.
Reflexão: Este estudo sugere que a forma de interação é relevante. Tornar a aprendizagem mais “jogável” potência o efeito da IA no rendimento e no pensamento dos alunos. No entanto, coloca-se a questão de até que ponto o elemento lúdico é responsável por esses efeitos e se resultados semelhantes se verificariam noutras disciplinas ou faixas etárias. Por outro lado, a ausência de impacto na criatividade pode indicar limitações nos chatbots atuais. Considera-se também a questão da escalabilidade, dado que a experiência envolveu poucos alunos, importa questionar se, em turmas maiores, seria igualmente exequível e se os resultados se manteriam.
Comentário: A experiência demonstra o potencial da inteligência artificial gamificada para promover o envolvimento dos alunos. Destaca-se, em particular, a forma como um jogo educativo com suporte de IA pode funcionar como um “mentor virtual”, oferecendo apoio personalizado. No entanto, importa sublinhar que, por si só, o jogo não assegura uma aprendizagem profunda sem a devida mediação pedagógica. Em contextos educativos reais, a intervenção do professor é imprescindível para monitorizar e ajustar a atividade. Em síntese, esta experiência reforça a premissa de que a integração da IA no ensino requer sempre um design instrucional rigoroso. Porque a tecnologia, por mais avançada que seja, só é eficaz quando bem utilizada.
>> Ler o artigo integral [AQUI], em inglês e em acesso aberto.
🛠️ Mãos à Obra:
Utilize a IA para criar atividades de dramatização (role-play) com os seus alunos
Objetivo da atividade: Explorar o potencial da IA generativa na criação de cenários de simulação (role-play), promovendo a empatia, o pensamento crítico e a tomada de decisão argumentada em contextos educativos reais ou fictícios.
O que é ? A ideia é simples: criar pequenas histórias em que os alunos assumem um papel, representando diferentes pontos de vista numa negociação, num dilema ético ou numa tomada de decisão profissional. Esta metodologia pode ser usada em gestão, ciências sociais, educação, saúde, entre outras áreas, e constitui uma oportunidade de aprendizagem experiencial com poucos recursos e elevado impacto.
Qual a novidade? Agora, a IA permite gerar múltiplas versões, adaptadas ao nível dos estudantes e à área disciplinar, promovendo o debate estruturado e o envolvimento mais ativo.
Como se faz? No portal Inspiring Minds, da Harvard Business Publishing Education, propõe-se uma abordagem inovadora: utilizar IA generativa, como o ChatGPT, para construir personagens, dilemas e contextos que sirvam de base para simulações em sala de aula.
Reflexão: Utilizar IA para criar cenários de role-play é uma estratégia criativa e eficaz, mas que exige supervisão pedagógica atenta. Os conteúdos gerados devem ser revistos para evitar estereótipos ou simplificações. É que a IA pode inspirar e acelerar o processo criativo, mas não substitui o discernimento do professor. A qualidade da experiência depende da forma como se orienta o debate e se constrói significado a partir das simulações. Assim, o impacto formativo pode ser muito relevante.
Comentário: A proposta apresentada destaca-se como um exemplo inspirador de aplicação pedagógica da IA. A criação de cenários de simulação com apoio da IA pode tornar o planeamento mais ágil e acessível, incentivando práticas centradas no estudante. Contudo, o impacto real depende de fatores humanos, como a intencionalidade pedagógica e a sensibilidade na escolha dos temas. As ferramentas de IA podem apoiar a criação deste tipo de atividades, facilitando o design de cenários e a geração de personagens. No entanto, o seu valor formativo depende da mediação do docente, da intencionalidade pedagógica e do enquadramento do trabalho proposto.
>> Aceder ao artigo completo [AQUI], em inglês e em acesso aberto.
💡 Conceito do mês:
Literacia em Inteligência Artificial
O que é: A literacia em IA inclui compreender como funcionam os sistemas de IA, quais são seus vieses e limitações, e usar essas ferramentas de forma crítica e ética. Conforme sugere um novo Regulamento Inteligência Artificial, da missão europeia, isto significa ensinar desde cedo a questionar resultados gerados pela IA, reconhecer quando uma resposta parece confiável e entender o impacto social destas tecnologias.
Ou seja: trata-se de capacitar os estudantes a serem utilizadores conscientes de IA e, não apenas, consumidores passivos. Este conceito vem ganhando força numa era em que chatbots e algoritmos dominam as interações digitais, é urgente educar para o “como” e o “porquê” da IA, não só o “o quê”. Segundo especialistas do Fórum Económico Mundial, as escolas devem ir além do “saber usar computadores” para formar uma cultura de IA entre os alunos.
Qual é o desafio? em termos práticos, é mais complexo do que parece: como ensinar conceitos de algoritmos ou de redes neurais num nível básico? Provavelmente, deve-se focar em habilidades transversais (pensamento crítico, compreensão de processos), usando a própria IA como recurso didático. Esse conceito também coloca exigências ao professor: precisamos de formação docente em IA para guiar estas discussões.
Comentário: A ideia de literacia em IA revela-se particularmente pertinente no contexto educativo atual. Em muitos casos, observa-se que os estudantes utilizam ferramentas como o ChatGPT sem compreender os mecanismos que conduzem às respostas apresentadas. Torna-se, por isso, essencial que a escola assuma a IA como objeto de estudo. As orientações mais recentes sobre frameworks educacionais reforçam esta necessidade: não basta disponibilizar a tecnologia aos mais jovens, é fundamental acompanhá-la com mediação crítica e intencionalidade pedagógica.
Em conclusão: O investimento na literacia em IA assume um papel decisivo para que estas tecnologias se tornem aliadas no processo educativo, e não fatores de desorientação ou dependência. Capacitar os alunos para formular boas perguntas revela-se tão essencial quanto proporcionar-lhes respostas. É nesse equilíbrio que se constrói uma relação crítica, autónoma e construtiva com a IA.
>> Dois documentos para saber mais: Why AI literacy is now a core competency in education [AQUI]; Regulamento europeu para Inteligência Artificial [AQUI]
🌐 Ecos da Rede:
Debate viral sobre ética escolar e IA
O aluno fez no trabalho com a IA e pediu desculpas com o ChatGPT
O que se passou ? Um professor norte-americano relatou ter detetado um aluno a utilizar inteligência artificial na elaboração de um trabalho. Posteriormente, o aluno enviou um e-mail a pedir desculpa, curiosamente, redigido pelo próprio ChatGPT. O relato gerou surpresa entre os seguidores do professor e originou centenas de comentários. Em resposta, o docente afirmou que o aluno reconheceu o erro e tomou a iniciativa de pedir perdão, o que constitui um gesto humano. No entanto, o conteúdo do e-mail carecia de autenticidade, pois parecia claramente escrito pelo ChatGPT. Esses pormenores despertaram tanto o humor como a reflexão no debate público, sendo que muitos sublinharam a ironia de o aluno ter recorrido à IA até para mostrar arrependimento.
Reflexão: Este episódio ilustra um dilema contemporâneo: a omnipresença da inteligência artificial torna até o ato de assumir a culpa suscetível de se tornar artificial. O debate nas redes sociais centrou-se na questão da confiança, se um pedido de desculpa pode ser gerado automaticamente, como avaliar a autenticidade das intenções? Emergiu também a discussão sobre políticas educativas, será legítimo sancionar os alunos pelo uso indiscriminado da IA, ou deverá a escola privilegiar a formação em ética digital? Em suma, o caso alimenta uma reflexão fundamental, quem está realmente a comunicar quando recorremos à IA: o humano ou a máquina?
Comentário: Este caso desperta simultaneamente humor e inquietação. Por um lado, é difícil ignorar a ironia do episódio, por outro, levanta-se a questão sobre até que ponto a desumanização está a infiltrar-se nas relações escolares. O episódio convida a uma reflexão mais ampla, discutir a ética da inteligência artificial não deve limitar-se ao seu uso académico, mas deve também orientar as atitudes e comportamentos dos estudantes. Histórias como esta funcionam como sinais de alerta, sublinhando a importância de reforçar, no contexto educativo, o valor da ação consciente e da empatia, dimensões humanas que a máquina não pode substituir.
>> Link para o post na rede social X [AQUI]
⚙️ Ferramenta em teste
NotebookLM
O que é: O NotebookLM, desenvolvido pela Google, é um assistente de investigação e tomada de notas utilizando a IA Gemini (também da Google).
O que faz? Permite ao utilizador carregar documentos (PDF, Google Docs, apresentações, vídeos do YouTube, etc.) e, a partir deles, gerar:
Sumários: sínteses precisas do conteúdo carregado;
Q&A: respostas a perguntas baseadas exclusivamente nas fontes fornecidas;
Podcast: conversas áudio-estilo podcast;
Mapas mentais interativos: exploração gráfica de conceitos e ligações entre os documentos carregados;
Comparação de documentos: análise comparativa de diferentes fontes para identificar semelhanças e divergências;
Cronologias: representações sequenciais de eventos, conceitos ou marcos extraídos automaticamente dos documentos carregados.
Quais são as principais vantagens ?
As respostas são sempre apoiadas nas fontes que o utilizador fornece, reduzindo o risco de “alucinações” típicas noutras ferramentas;
Suporta múltiplos tipos de ficheiros e até conteúdos multimédia, oferecendo uma abordagem única para material complexo;
Com aplicações para iOS e Android, é possível ouvir sumários áudio offline e adicionar fontes diretamente de qualquer aplicação;
Utiliza o português europeu;
Gratuito para uso básico;
Melhora a produtividade ao reduzir trabalho manual.
E quais são as grandes de limitações ?
Dependência de uma conta Google;
Incapacidade de editar os ficheiros áudio (podcast);
Limites de conteúdo na versão gratuita: número restrito de sumários áudio e documentos carregados, incentivando a migração para o plano Plus.
Comentário: O NotebookLM destaca-se como uma solução inovadora para investigadores, professores, estudantes e profissionais que trabalham com grandes volumes de informação. A sua capacidade de gerar sumários rigorosos e conversas áudio fundamentadas é particularmente valiosa num contexto académico, onde a precisão e o rastreio de fontes são cruciais. Contudo, deve ser encarado como um complemento ao pensamento crítico, não como um substituto. Não esquecer também que a limitação de funcionalidades na versão gratuita e a necessidade de integração plena no ecossistema Google podem constituir barreiras para alguns utilizadores. Em última análise, o NotebookLM é uma poderosa ferramenta de apoio à investigação, desde que utilizada de forma consciente e crítica.
>> Link para a ferramenta: https://notebooklm.google.com
📢 A seguir…
Newsletter IAEdPraxis: Caminhos Inteligentes para a Educação
Para quem se interessa pelo impacto da IA na educação, vale a pena acompanhar a newsletter IAEdPraxis. Trata-se de uma publicação que explora, de forma crítica e prática, como a IA pode ser integrada nas práticas educativas, sobretudo no ensino superior e na educação a distância. O projeto combina investigação, experiências pedagógicas e debates sobre as implicações éticas e sociais da IA na educação, propondo abordagens inovadoras que valorizam a criatividade e a reflexão crítica.
A leitura e a participação nesta comunidade podem inspirar novas formas de pensar e agir, alinhadas com os desafios emergentes da educação.
>> Aceder à Newsletter IAEdPraxis [AQUI]
💭 Pensar alto
A disrupção provocada pela IA
A disrupção provocada pela IA na educação gera, ao mesmo tempo, expectativas e preocupações. Por um lado, a IA tem o potencial de personalizar os processos de ensino e aprendizagem, automatizar tarefas administrativas e potenciar abordagens adaptativas. Por outro, põe em causa estruturas educativas tradicionais, modos convencionais de avaliação e a relação entre professor e aluno. O verdadeiro caráter disruptivo reside, por isso, não apenas na tecnologia em si, mas sobretudo na forma como esta é integrada para transformar as práticas pedagógicas.
É particularmente interessante considerar que a disrupção nem sempre acontece de forma radical ou imediata; muitas vezes manifesta-se através de pequenas experiências locais que desafiam, de forma gradual, as políticas e estruturas educativas já estabelecidas. Estes pequenos passos mostram que a mudança pode ser mais complexa e multifacetada do que um simples “antes e depois”. Este processo exige uma reflexão profunda, para garantir que a introdução da IA seja acompanhada por uma governação responsável.
Assim, a reflexão que se impõe não é apenas sobre o que a IA pode transformar na educação, mas também sobre como gerir essa transformação.
>> Para aprofundamento, recomendamos o artigo: “Anticipating disruption: artificial intelligence and minor experiments in education policy”, disponível [AQUI].
❓ A inquietação do mês
Como ter certeza se um texto foi escrito por IA?
O que se passa ? Num cenário onde a IA generativa se banalizou os professores enfrentam um novo dilema: como distinguir entre um texto humano e um texto criado por máquina? Existem ferramentas de deteção (GPTZero, ZeroGPT, entre outras) mas são reconhecidamente falíveis. Os chamados “falsos positivos” e “falsos negativos” são frequentes, comprometendo a fiabilidade dos resultados.
Qual é o problema? O risco é tomarmos decisões pedagógicas ou disciplinares baseadas em indicadores incertos. Para além da fragilidade técnica, estas ferramentas geram um clima de desconfiança e ansiedade nas salas de aula. Estudantes íntegros tentam “humanizar” os seus textos para não serem mal interpretados. Assim, a pergunta não é apenas técnica, é ética: o que ganhamos, e o que perdemos, ao transformar o processo de escrita num território de suspeita?!
Então, qual é a resposta: Talvez a resposta mais sensata passe por repensar a nossa forma de ensinar e avaliar. Quando acompanhamos os alunos ao longo do processo, com momentos de discussão e reformulação, ganhamos instrumentos mais sólidos para perceber a autoria do que quando confiamos em ferramentas detetoras de IA. Em vez de tentar “descobrir” se a IA foi utilizada, podemos perguntar: como foi usada? Que decisões o aluno tomou? A transparência pode ser um critério mais útil que a vigilância. O foco desloca-se, então, da deteção para a mediação pedagógica. Ao colocarmos o processo no centro, cultivamos a confiança, promovemos a autoria crítica e abrimos espaço para que a IA seja usada como ferramenta, não como atalho nem como ameaça.
Comentário: Algumas experiências com ferramentas de deteção de texto gerado por IA revelaram resultados, no mínimo, desconcertantes. Textos antigos surgiram classificados como “provavelmente IA”. É o caso da conhecida experiência que indicou a Constituição dos EAU como sendo escrita por IA. Mas, outros textos, claramente produzidos por IA, passaram sem sinal de alerta. Estes episódios devem de alimentar a desconfiança quanto à fiabilidade destas ferramentas. Mais do que isso, levantam uma questão pedagógica: é esse o papel do educador, vasculhar cada parágrafo procurando suspeitas?
Não. Mas, e agora ?! Muitos professores defendem que o mais eficaz continua a ser o diálogo. Perguntas simples como “porque escolheste este exemplo?” ou “como chegaste a esta ideia?” revelam mais sobre o processo de aprendizagem do que qualquer ferramenta de deteção automática. Apostar na escuta ativa e na mediação crítica permite compreender intenções, escolhas e percursos, elementos que a IA ainda não é capaz de avaliar com subtileza.
Concluindo: Afinal, mais do que detetar erros, educar é acompanhar o processo de aprendizagem. Se queremos que os estudantes reflitam, citem, construam argumentos próprios, temos de criar contextos onde isso seja incentivado, e não apenas fiscalizado. O uso da IA vai continuar a crescer, quer gostemos ou não. Cabe-nos a nós decidir se queremos ser polícias da escrita ou educadores que confiam e acompanham.
❓ Perspetivas
A inteligência artificial está mesmo a transformar a educação?
Um olhar para Entrevista a Jorge Rio Cardoso
>> Leia a entrevista integral [AQUI]
Do que se fala? O professor, e autor de vários livros sobre a educação, defende que a IA está a transformar profundamente a educação e que essa transformação pode ser positiva, se bem orientada. Salienta que a IA permite libertar tempo ao professor, apoiar estudantes com maiores dificuldades e tornar as aprendizagens mais personalizadas e motivadoras. No entanto, lança vários alertas: é essencial que os docentes saibam usar esta tecnologia; que haja políticas públicas adequadas e que se mantenha o foco na formação humana. A IA, diz, deve ser “uma aliada e não uma ameaça ao processo educativo”.
Reflexão: Esta entrevista dá voz a uma perspetiva equilibrada e informada, reconhece o potencial da IA na escola, mas recusa visões ingénuas ou deterministas. O autor sublinha o papel indispensável do professor e insiste que a IA só faz sentido se estiver ao serviço de uma educação mais inclusiva, humana e participada. O seu olhar é pedagógico, mais do que inovar por inovar, é preciso garantir que a tecnologia contribui para melhores aprendizagens e para uma escola mais justa.
Comentário: O contributo desta entrevista é valioso por conciliar conhecimento técnico, experiência docente e preocupação com o bem comum. A resposta à pergunta do título é clara: a IA pode transformar e melhorar a educação, desde que usada com intencionalidade pedagógica e visão ética. Ao destacar a importância da “relação afetiva e da mediação do professor”, reforça-se um princípio fundamental: é na relação educativa, e não na ferramenta, que reside o verdadeiro valor da escola.
Uma leitura que inspira confiança e responsabilidade num tempo de mudanças rápidas.
Fique à espreita: nas próximas edições, iremos analisar o novo livro do autor, “Mais IA, Melhor Educação”, publicado pela Guerra e Paz.
📬 Cartas dos leitores
Quando quem nos lê nos escreve!
O leitor A. enviou-nos um email a questionar a segurança dos dados pessoais no uso da IA na educação. Alerta para a ausência de garantias reais de proteção, como a segregação de acessos, a pseudonimização ou a anonimização, especialmente quando estão em causa crianças.
A nossa resposta: Agradecemos, desde já, o alerta. O leitor levantou um ponto crucial e absolutamente pertinente sobre a privacidade dos dados na aplicação da IA na educação. É um facto que os sistemas baseados em IA trabalham com grandes volumes de informação, e os riscos de (re)identificação são reais, mesmo quando são aplicadas técnicas de pseudonimização.
Este comentário lembra-nos que não basta confiar em soluções tecnológicas, é fundamental garantir uma gestão transparente (incluindo a nível governamental), regras de acesso bem definidas e salvaguardas legais eficazes, especialmente quando falamos de dados de crianças e jovens. A confiança pública na IA educativa depende, em grande medida, da forma como protegemos os mais vulneráveis.
A sua opinião do leitor A. veio confirmar que o debate sobre IA na educação precisa de mais vozes críticas e atentas.
Para não esquecer: Tomamos nota da pertinência desta reflexão e vamos retomar o tema em futuras edições, pois este é, sem dúvida, um dos temas centrais do nosso tempo.
>> As cartas dos leitores são sempre bem recebidas e devem ser enviadas para o email recortesiaedu@gmail.com
📝 Nota de Rodapé
Neste mês de Santos Populares, não podiam faltar as tradicionais quadras populares!
Aí rico Santo António, tão sabido,
Dá-me um prompt inspirador,
Que a IA fale com sentido,
E ensine com mais amor!
Á São João, com teu balão,
Ilumina a aprendizagem,
Que a IA nos traga reflexão,
E não só uma bonita mensagem.
Ó São Pedro, abre caminho,
Para o futuro ensinar,
Com dados e bom carinho,
A educação a avançar.

*Imagem gerada pelo ChatGPT com a prompt “Cria uma imagem alusiva às marchas populares na tradição portuguesa, com elementos relacionados com a inteligência artificial”
👋 Até à próxima edição...
À medida que encerramos esta edição, fica a principal conclusão: a Inteligência Artificial pode ser uma aliada poderosa na educação, mas só cumprirá o seu potencial se for acompanhada de literacia crítica e de uma mediação pedagógica cuidada.
Os estudos sobre chatbots gamificados, as propostas de role-play e a utilização de ferramentas como o NotebookLM demonstram ganhos em motivação e personalização, mas reforçam que nada substitui o olhar atento do professor e a formação consciente dos estudantes.
Agradecemos a sua leitura, subscrição e partilha nas redes sociais. Cada comentário, sugestão ou crítica é bem-vinda e fortalece este espaço de curadoria académica com tom acessível e humano.
Até à próxima edição, onde continuaremos a explorar, questionar e partilhar o melhor da IA na educação.
Obrigado por estarem desse lado!
Recortes IA @ EDU
💬 Tem algo a dizer?
Esta edição já traz algumas das sugestões que nos enviaram. Ideias frescas, propostas ousadas ou comentários curiosos, tudo conta e é muito bem-vindo!
Esta newsletter é feita com quem nos lê e para todos os que têm interesse pela IA na educação. Não hesite, escreva para recortesiaedu@gmail.com.
Contamos consigo para continuarmos a pensar melhor, juntos!
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