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Divina Frau-Meigs: os mecanismos complexos de desinformação

Oriunda de uma origem modesta, a aprendizagem não é um acessório, é uma estética da vida, cheia de flores íris selvagens.

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Dora SANTOS

Divina Frau-Meigs

Breve biografia

À primeira vista, a minha biografia parece uma história de sucesso da classe média francesa: tive a melhor média no exame final do ensino secundário (BAC), formei-me na École Normale Supérieure e acabei por lecionar na Sorbonne Nouvelle. Numa leitura superficial, esta história conta uma jornada de recuperação: uma filha de agricultores pobres, imigrantes, analfabetos, que beneficiou do serviço público de educação para ascender na escala social e que se esforça por transmitir os seus conhecimentos aos outros.

A minha história

A minha memória mais antiga de aprendizagem é no ensino! Eu, com 6 anos, na minha quinta, em frente a uma fileira de alho-francês, bem alinhada. Contei-lhes o que a minha professora me dissera durante a semana (eu era aluna interna em Ajaccio, na Córsega). Eles pareciam gostar e ouviam, muito quietos. A minha professora era atenciosa comigo, num ambiente bastante áspero onde o assédio era banal. Portanto, na primavera, todas as segundas-feiras, eu levava-lhe íris selvagens que cresciam perto do nosso riacho. Desde então, a aprendizagem tem para mim uma intensa fragrância a terra, chamada "petricor" (aroma da chuva ao cair em solo seco) (já aprendi) e a flores cintilantes e ao mesmo tempo tímidas.

O que adoro na aprendizagem? É ao mesmo tempo transparente e secreta e, muitas vezes, descobrimo-la por acaso, na curva de um caminho.

A minha família vem de uma origem imigrante, pobre, com competências mínimas em literacia. O meu pai deixou de estudar aos 12 anos, porque foi para a guerra civil espanhola, e minha mãe abandonou os estudos aos 14, porque era rapariga. Foi o fim do seu desenvolvimento. Quando eu também fiz 12 anos, levantava-me cedo, antes que o meu pai fosse para o mercado e revia as minhas lições com ele. Ele ouvia, mas não em silêncio, e encorajava-me, com base na sua experiência enquanto migrante: "Aprende tudo o que puderes! O conhecimento não ocupa lugar e podes levá-lo para onde fores".

Como continuei a aprender avidamente na escola, não pude deixar de notar que nem todo o conhecimento estava nos livros. Mesmo sem escolaridade, os meus pais eram muito conhecedores. Qual era o seu segredo? Observando-os, obtive a resposta: os media! Obtinham informações ouvindo a rádio e ao discutirem com outros adultos as notícias dos jornais.

Mas os media não eram um recurso utilizado na escola. Assim, via-me numa vida dupla: na escola, estudava os media ditos “intelectuais” (cinema e livros) e, em casa, utilizava os media mais acessíveis (TV, rádio e banda desenhada). Esta dicotomia ainda hoje existe em muitos países e sistemas educativos. Só em 1983, quando entrei na Universidade de Stanford, é que compreendi que poderia ser feito de outro modo. Aí, os media estavam em toda parte e em constante evolução. Os pioneiros no ramo da informática tinham uma visão de como poderiam divulgar informação e, nesse processo, transformar a aprendizagem. A principal revolução para mim foi a mudança do modelo de transmissão do topo para as bases para o modelo co construtivo, centrado no aluno e baseado na investigação. Isto surgiu com toda uma gama de estratégias de aprendizagem ativas.

A partir desse momento, compreendi que a cultura digital era, no meu entender, composta por três culturas de informação (media, documentos e dados). Estudei todos os aspetos do domínio emergente da literacia para os media com minha própria teoria de transliteracia, com o objetivo de ajudar os meus colegas a transformar o seu ensino e, finalmente, a capacitar os jovens e os adultos a entenderem o seu ambiente de media digital. A nível político, fiz pressão para o que o termo "Informação" fosse adicionado à Literacia para os media, tornando-se MIL, na Declaração de Fez da UNESCO (2011), depois de ter participado da Cimeira Mundial da Sociedade da Informação (2003-05).

Tendo-me tornado professora universitária, aproveitei a oportunidade para ensinar através da plataforma de e-learning da Sorbonne Nouvelle. Encontrei todos os tipos de alunos, nomeadamente adultos que retomavam os seus estudos, enquanto trabalhavam. Criei um programa de mestrado online, AIGEME, com duas vias, uma para e-learning e outra para a Literacia dos Media e da Informação (MIL). Juntei-me, igualmente, ao projeto europeu ECO que desenvolveu alguns dos primeiros MOOC europeus. Desde então, procurei sempre unir-me ao poder transformador do ensino com os media (e-learning) e sobre as media (MIL), baseado na investigação. A aprendizagem ao longo da vida e em todos os domínios da vida faz todo o sentido para mim, pois não ocupa lugar e pode ocorrer em qualquer lugar: em casa, no local de trabalho, no estrangeiro.

Oriunda de uma origem modesta, a aprendizagem não é um acessório, é uma estética da vida, cheia de flores íris selvagens. A minha motivação é continuar a disseminar o novo campo da Literacia dos Media e da Informação - Media and Information Literacy (MIL), que continua a evoluir à medida que os media mudam.

Adoro desvendar algumas questões desafiadoras, como explicar os mecanismos complexos da desinformação e construir contra-narrativas.

Fundei a Savoir*Devenir, uma ONG com um pé na academia e outro na sociedade civil para aceder aos adultos e formá-los em MIL.

My motto

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