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Aprender numa sociedade de superdiversidade e de rápidas mudanças

Como podemos criar o enquadramento para a mudança? Os Círculos de Aprendizagem Transformadora são uma sugestão para bons métodos.

TreeImage.
Dora SANTOS

Publicação de: Ida Pedersen

Tradução: EPALE Portugal

 

Escrito por Lene Rimestad  para a EPALE da Dinamarca

 

Este texto faz parte de uma série de artigos sobre a inclusão no setor da educação de adultos que a EPALE da Dinamarca irá produzir este ano.

A nossa sociedade está a mudar rapidamente. À medida que o tempo passa, caracteriza-se por uma diversidade cada vez maior. Então, como podemos encontrar soluções comuns para os nossos problemas?

Maria Marquard trabalhou com colegas, na Dinamarca e noutros países nórdicos, usando a metodologia dos Círculos de Aprendizagem Transformadora. Estes veem esta metodologia como uma abordagem de trabalho capaz de ajudar a promover transformações que podem ser usadas nos mais diversos contextos, inclusive no trabalho que implica diversidade e inclusão.

“Revitalizámos uma tradição nórdica de aprendizagem cocriativa, baseada no diálogo, em círculos de aprendizagem e de estudo. Poderá usar esta metodologia de trabalho como parte do desenvolvimento de competências de funcionários que trabalham com a inclusão, mas o método também pode ser usado no contacto direto com diferentes grupos de pessoas”, referiu Marquard, consultora especial no Departamento de Educação, DPU, da Aarhus University, e coordenadora nacional dinamarquesa da Rede Nórdica para a Educação de Adultos - Nordic Network for Adult Learning (NVL), tendo testado o método em vários contextos.

Maria Marquard

Maria Marquard, consultora especial da Universidade de Aarhus e coordenadora nacional da NVL, na Dinamarca.

Os círculos de aprendizagem transformadora também têm sido utilizados pela associação de habitação social Bo-Vita, ao trabalhar para que os moradores se formem, e, por exemplo, concluam os exames finais do 9.º ano. O método envolve duas ou mais pessoas que se juntam e discutem: que tipo de desafio enfrentamos e para onde queremos ir – e juntos chegam a ações concretas para lidarem com o problema.

"O método envolve não falar SOBRE aqueles a que diz respeito, mas COM aqueles a que diz respeito.  Assim, encontram-se soluções em conjunto”, acrescentou Marquard.

Os Círculos de Aprendizagem Transformadora podem ser sobre inclusão social ou sustentabilidade, mas também sobre a criação de inovação numa empresa fabril ou noutras organizações. A Rede Nórdica de Educação de Adultos testou o método em muitos contextos diferentes e parece ser uma extensão natural da tradição nórdica de cooperação e de compreensão da democracia.

Dois projetos de círculos de aprendizagem foram lançados e decorreram em 2019. Um para funcionários que trabalham em educação de adultos com grupos-alvo vulneráveis e outro para funcionários que trabalham em educação de adultos que estão inseridos na vida profissional. O objetivo dos dois círculos de aprendizagem foi identificar problemas comuns e discutir soluções. Os participantes do círculo são responsáveis por escolher os problemas e encontrar soluções, enquanto o facilitador proporciona o enquadramento e não orienta numa direção específica.

“Não se trata de fazer o que o sistema exige ou quer mas de escolher soluções que façam sentido para os participantes”, referiu Marquard.

As diferenças dos participantes, como a nacionalidade e a experiência de vida, proporcionam muitas nuances e perspetivas para desenvolver e encontrar novas soluções sustentáveis para problemas complexos.

O método coloca exigências muito especiais ao facilitador que, entre outras coisas, deve ser paciente no que toca a dar aos participantes tempo para encontrarem o seu próprio foco e ter coragem ao ousar deixar a responsabilidade com os participantes.

"Não se pode gerar transformação, mas pode-se criar o enquadramento para a transformação", disse Marquard.

O método é caraterizado por uma elevada responsabilidade e envolvimento dos participantes. Isto significa que o facilitador do grupo não pode assumir um papel mais tradicional de professor/especialista. O facilitador estabelece o enquadramento e torna-se o defensor do método, enquanto o grupo deve criar conteúdos, definir os objetivos e encontrar as soluções para o trabalho. Desta forma, as soluções estão intimamente ligadas às experiências e motivações dos participantes e não são ditadas pelo exterior.

Um participante de um dos projetos-piloto descreve como experienciou ter este tipo de diálogo com outras pessoas:

"E quanto mais abordagens considera, mais perspetivas obtém sobre si mesmo, da sua organização e do seu público-alvo. Vê com olhos ligeiramente diferentes ao debater com outras pessoas que trabalham com o mesmo tipo de público e que têm os mesmos problemas, mesmo que tenha tarefas diferentes relacionadas com o trabalho com essas pessoas”, disse o participante sobre o projeto no relatório intitulado Learning Circles: Evaluation of Two Pilot Circles.

Outro disse que o método também pode ser usado internamente na sua própria organização:

"O meu entendimento do nosso desafio comum (na minha própria organização) mudou: ainda tenho de trabalhar para que a equipa reflita e pense em diferentes perspetivas. Especialmente quando trabalhamos com formação e validação para o emprego, precisamos ainda mais deste método para criarmos condições para os nossos participantes. As nossas reuniões de coordenação são uma espécie de círculo onde discutimos vários assuntos relacionados com as validações e vejo que consigo desenvolver um fórum de reflexão global. Talvez as notas comuns possam desencadear diferentes expressões/afirmações/perguntas, que por sua vez possam contribuir para uma visão mais comum ou para a compreensão de diferentes tarefas/prioridades no local de trabalho."

 


 

O que é a NVL?

A NVL, a Rede Nórdica para a Educação de Adultos é um programa do Conselho de Ministros Nórdico.

Os objetivos da NVL são:

  • promover o desenvolvimento de competências em diferentes áreas da educação de adultos nos países nórdicos;
  • contribuir para o desenvolvimento dos sistemas nórdicos de educação de adultos através de um diálogo reforçado com o Conselho de Ministros Nórdico e as presidências rotativas do Conselho de Ministros;
  • contribuir para o desenvolvimento pessoal e para a participação democrática através de diferentes formas de educação de adultos;
  • contribuir para a cooperação intersetorial e nacional;
  • promover a cooperação nórdica com a sociedade civil e a vida profissional e, em particular, com a educação pública;
  • disponibilizar informações sobre experiências e resultados da cooperação nórdica em educação de adultos.

A NVL é uma rede internacional descentralizada, criada pelo Conselho de Ministros Nórdico, em 2005. A NVL atua em cinco países nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia) e nas três áreas autónomas da região nórdica (Alanda, Ilhas Faroé e Gronelândia).

Fontehttps://nvl.org/Om-NVL

 


 

O que são círculos de aprendizagem transformadora?

A aprendizagem transformadora é definida como sendo 'transformadora e mutável em relação ao entendimento dos participantes, aos quadros de referência, perspetivas, hábitos mentais e mentalidades'. Por exemplo, quando um novo entendimento dos participantes leva a uma nova ação na prática diária do trabalho e, possivelmente, como efeitos colaterais, também leva a mudanças noutras áreas da vida.

Os princípios gerais dos círculos de aprendizagem na Rede Nórdica para a Educação de Adultos são descritos da seguinte forma:

  1. um elevado nível de responsabilidade e compromisso por parte do participante;
  2. baseiam-se nas experiências práticas atuais dos participantes e nos seus contributos ativos;
  3. a diversidade é o motor para a aprendizagem e cocriação de novos conhecimentos e competências;
  4. uma estreita ligação entre a teoria/novos conhecimentos e a própria prática dos participantes.

Outra forma de trabalho que a NVL revitalizou para tornar os participantes e os cidadãos responsáveis e comprometidos foi o “Workshop do Futuro”. Esta forma de trabalho foi utilizada numa rede da NVL, onde três comunidades insulares no Mar Báltico, em 2015-16, desejaram qualificar os refugiados recém-chegados, na sua receção, e promover a sua permanência nas ilhas.

Existem três fases no workshop do futuro – e na revitalização da NVL, os seminários To-do, inspirados em Robert Jungk:

A Fase 1 é a Fase Crítica.

Trabalhar com experiências negativas e críticas, com problemas identificados e desafios é uma forma de apoiar a emancipação e a aprendizagem social. A fase crítica ajuda a perceber que problemas, desafios e experiências são comuns. Isto torna os participantes conscientes dos desafios individuais e estruturais.

A Fase 2 é a Fase da Visão e do Sonho.

Trabalhar com visões e sonhos é uma forma de transcender a vida diária e de formular imagens utópicas de outra – e potencialmente futura – realidade desejável.

A Fase 3 é a Fase da Concretização.

O trabalho de formular as atividades e os projetos conjuntos que deseja concretizar e de que forma é uma maneira de capacitar, pois o trabalho favorece o poder da mudança coletiva e a capacidade de ação.

Fontes:

https://nvl.org/Portals/0/NVL_learning_circles_020522.pdf

https://nvl.org/Content/Handbog-i-To-do-en-arbejdsform-til-samskabelse-lokal-handlekraft-og-baeredygtige-loesninger

https://nvl.org/Content/Handbok

 

 

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