Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal - 2023
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Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal - 2023
A Fundação José Neves (FJN) disponibilizou, este mês, no seu site, a terceira edição do relatório “Estado da Nação – Educação, Emprego e Competências em Portugal”.
Esta publicação atualiza a posição atual de Portugal em indicadores-chave da educação e do emprego bem como as dinâmicas dos salários e do emprego durante o ano de 2022, focando-se, em seguida, na digitalização no emprego, nas empresas e na educação. O relatório aborda ainda os grandes desafios do sistema de educação e formação a curto e longo prazo, terminando por apresentar a posição atual relativamente às metas para um Portugal do conhecimento em 2040 e os caminhos para um futuro melhor, designadamente as linhas de ação mais pertinentes e urgentes.
A publicação resulta de uma iniciativa da FJN, em colaboração com investigadores da Universidade do Minho, da Universidade de Aveiro e da Nova SBE (Universidade Nova de Lisboa), com base em dados do INE, do MTSSS e do portal Brighter Future, entre outras fontes.
Avanço nos indicadores da educação, mas sem retorno e alinhamento com o mercado de trabalho
De acordo com o sumário executivo, é possível concluir que “em 2022, os indicadores-chave da educação e do alinhamento entre educação e emprego progrediram, mas o do emprego manteve-se”. Ou seja, se nos indicadores de educação é notório um avanço, em termos de qualificação de adultos Portugal permanece na cauda da Europa. De facto, em 2022, 39,7% dos adultos entre os 25 e os 64 anos tinham completado, no máximo, o ensino básico, sendo a média da UE 20,5%.
Como tal, a FJN sugere uma análise e intervenção articuladas nos diferentes indicadores para que o progresso não se resuma ao eixo da educação “sem o adequado retorno e alinhamento com o mercado de trabalho”.
Ganhos salariais associados ao ensino superior em mínimos históricos
Com respeito aos ganhos salariais, o relatório constata uma diminuição nos salários reais pela primeira vez, desde 2013, e, “de forma muito pronunciada, entre os jovens qualificados”. A FJN acrescenta mesmo que os ganhos salariais do ensino superior, comparativamente com os do secundário, diminuíram de forma abrupta: “enquanto em 2011 um jovem adulto com um curso superior tinha, em média, um salário 50% superior ao de um com o ensino secundário, essa diferença diminuiu para 27% em 2022”.
Um mercado de trabalho mais qualificado e digital após a pandemia
Numa análise às competências mais procuradas pelo mercado de trabalho, destacaram-se, em 2022, as digitais: “28% das competências pedidas eram digitais e 66% das ofertas de emprego anunciadas solicitavam competências digitais, um valor em linha com o de 2020, mas muito superior aos 54% de 2019”. Além disso, o uso frequente de tecnologias digitais passou a ser referido por metade dos trabalhadores portugueses. Ainda assim, a digitalização continua a ser um enorme desafio.
Um potencial de digitalização por explorar
Se é certo que a pandemia acelerou a intensidade digital do emprego, continua a existir um enorme potencial de digitalização. Conforme indicado no relatório, “4 em cada 10 trabalhadores portugueses estão em empregos em que, ou não utilizam tecnologias digitais, ou fazem uma utilização muito básica das mesmas e 48% das empresas têm um nível de digitalização baixo”. Estes são dados que não facilitam o processo produtivo, muito associado hoje à digitalização. Tal como indicado neste relatório, “as empresas mais produtivas são as que têm trabalhadores mais qualificados e um nível de digitalização médio ou elevado”.
Portugal apresenta ainda um cenário pouco favorável, uma vez que “4 em cada 10 adultos portugueses não têm competências digitais básicas e as competências digitais dos estudantes dependem do seu estatuto socioeconómico”. A aposta na formação em competências digitais apresenta dados igualmente preocupantes, já que em 2022, apenas menos de um quarto (24%) das empresas com pelos menos 10 trabalhadores proporcionaram formação aos seus trabalhadores neste domínio.
Nas escolas, a FJN considera que “é necessário equipar as escolas com recursos informáticos adequados, reforçar a formação dos professores nesta área, rever métodos de ensino e de aprendizagem e evitar que as tecnologias digitais se tornem num indutor adicional de desigualdades sociais”.
A formação avançada na área das TIC afigura-se como outro grande desafio, uma vez que “o emprego dos especialistas em TIC cresceu a um ritmo 5 vezes superior ao do emprego geral entre 2014 e 2022, mas é preciso acelerar para aumentos anuais de 10% até 2030 para atingir a meta estabelecida pela União Europeia”. Além disso, “6 em cada 10 empresas interessadas nestes especialistas reportaram dificuldades de recrutamento, principalmente devido às expetativas salariais e à falta de candidatos”. A atração das mulheres para esta área é apontada como “uma das abordagens com maior potencial para aumentar o número destes especialistas”.
Os desafios da educação
Quanto aos desafios com que se depara a educação, a FJN assinala as perdas de aprendizagem resultantes da pandemia e que são comprometedoras para o futuro dos indivíduos e do país, o envelhecimento da classe docente, as condições de trabalho e de progressão na carreira dos professores e ainda a necessidade de uma nova visão para o sistema de educação e formação.
As perdas de aprendizagem são equivalentes “a ligeiramente mais de metade do progresso previsto durante um ano letivo” e são maiores nas áreas da matemática e ciências.
No que toca aos docentes, “Portugal é o país da União Europeia com os docentes mais envelhecidos e onde os pais menos aconselham os filhos a escolherem esta carreira” e “cerca de 1 em cada 5 professores portugueses era contratado e tinha um salário bruto abaixo dos 1.500€, já com o subsídio de refeição”. Em acréscimo, “22% dos professores portugueses dizem estar arrependidos de terem escolhido a sua profissão, um valor sem paralelo na União Europeia e que resulta em elevados níveis de stress e insatisfação profissional”.
A olhar para o futuro
Com os olhos postos no futuro e constatando que nos encontramos muito aquém das metas ambicionadas para 2040, o relatório elenca um conjunto de linhas de ação consideradas urgentes. Estas linhas têm como premissa o facto de o futuro profissional e o bem-estar depender da capacidade de o país formar, reter e desenvolver o talento dos jovens e dos adultos, de forma integrada com o mercado de trabalho e com os desafios do futuro.
De entre essas linhas de ação destaca-se aqui a promoção da aprendizagem ao longo da vida e de “um sistema de requalificação ocupacional realista que tenha em conta as competências de base dos trabalhadores, que variam no tipo e nível de proficiências”, assim como o estabelecimento e implementação de “uma taxonomia de competências que seja adaptável, útil e aplicável simultaneamente por instituições de ensino e formação e por empregadores”.
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