O preço da inação: os custos globais privados, fiscais e sociais das crianças e jovens sem educação


“Até 2030, a nível mundial, os custos privados anuais (custos económicos suportados pelos indivíduos) da percentagem atual de jovens que abandonam precocemente a escola e de crianças com competências inferiores às básicas serão de 6,3 mil milhões de dólares e de 9,2 mil milhões de dólares, ou 11 e 17 por cento do PIB global, respetivamente. Estimar estes custos privados para um horizonte de vinte anos (até 2041) aumenta estes valores até 20 vezes”.
Esta é uma das conclusões, verdadeiramente alarmante, do estudo “The price of inaction: the global private, fiscal and social costs of children and youth no learning”, publicado em junho deste ano, pela UNESCO.
Conforme se lê no sumário executivo desta publicação, este relatório é o primeiro, a nível global, que junta a UNESCO, a OCDE e o Secretariado da Commonwealth, com o intuito de “ilustrar os custos monetários para as economias de todo o mundo de deixar crianças e jovens para trás na educação”, demonstrando ainda o impacto desses custos se estivermos a falar de raparigas ou de rapazes, tornando clara a ação transformadora do género para o desenvolvimento económico.
A publicação reconhece os esforços realizados pelos países, de um modo geral, mas demonstra também o quanto há ainda a fazer, nomeadamente tendo presente as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 4 (garantir uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos) e 5 (alcançar a igualdade de género e capacitar todas as mulheres e raparigas). Efetivamente, neste relatório é dado conta de que “o número de crianças que não frequentam a escola continua a ser significativo, com 128 milhões de rapazes e 122 milhões de raparigas excluídos da escola” Além disso, “os défices de competências escolares também são imensos – 57 por cento das crianças do mundo não adquiriram competências básicas.”
A publicação refere igualmente que, caso os governos aumentassem os seus esforços nestas duas dimensões, garantindo que todas as crianças e jovens frequentassem a escola e atingissem o nível básico de competências, “o futuro PIB mundial aumentaria anualmente mais de 6,5 mil milhões de dólares, para não mencionar a eliminação dos custos sociais do fracasso”.
Audrey Azoulay, Diretora-Geral da UNESCO, é ainda mais veemente ao expressar no prefácio que “se os países continuarem no seu atual caminho de exclusões contínuas da escola, a economia global será sonegada em cerca de 10 mil milhões de dólares anuais – mais do que os PIB anuais da França e do Japão juntos. Inversamente, o relatório conclui que a redução em 10 por cento do número de jovens que abandonam precocemente a escola e de crianças com competências inferiores às básicas aumenta o crescimento anual do PIB em 1 a 2 pontos percentuais”.
Outros dados alarmantes veiculados pelo estudo indicam que “até 2030, a nível mundial, os custos financeiros anuais (governos) do abandono escolar precoce e das crianças com competências inferiores às básicas ascenderão a 1,1 mil milhões de dólares e a 3,3 mil milhões de dólares, respetivamente” e ainda que “no subconjunto de países para os quais existem dados disponíveis, a perda de PIB devido aos baixos níveis de competências socio emocionais até 2030 atingirá 7,4 mil milhões de dólares (19 por cento do PIB anual).
Embora o relatório se foque principalmente nos custos monetários (para os indivíduos e para os governos), também são estimados custos não monetários, incluindo gravidezes precoces, corrupção, crime e moral fiscal.A título de exemplo, o estudo infere que “cada ano de ensino secundário pode reduzir significativamente o risco de as raparigas se casarem e terem filhos antes dos 18 anos”; “as mulheres que abandonam precocemente a escola e as raparigas com competências inferiores às básicas estão associadas globalmente a um aumento de 59 por cento e de 69 por cento no número de gravidezes precoces, respetivamente”; e “a incidência global de homicídios é 8,7 por cento mais elevada devido ao abandono escolar precoce e 57 por cento mais elevada devido ao facto de as crianças terem menos do que competências básicas”. Importa ainda referir que, de acordo este estudo “globalmente, o número de NEET é 38 por cento mais elevado devido ao número de crianças com competências inferiores às básicas” e que “a falta de escolaridade e de competências cognitivas tem maior probabilidade de manter as raparigas inativas do que os rapazes. A prevalência de NEET nas raparigas é de 28 por cento e de 42 por cento mais elevada, respetivamente, em comparação com 24 e 34 por cento para os rapazes”.
Aceda à totalidade do estudo aqui: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000389852

