O que entendemos por APRENDIZAGEM INTERGERACIONAL?

A INCLUSÃO SOCIAL DA POPULAÇÃO EM ENVELHECIMENTO E A APRENDIZAGEM INTERGERACIONAL (II)
O que entendemos por APRENDIZAGEM INTERGERACIONAL é matéria relevante no desafio que a EPALE lançou para o mês de dezembro 2020 e pretende que seja objeto de debates e de iniciativas.
ESTAMOS A MOBILIZAR DOIS CONCEITOS FUNDAMENTAIS, A APRENDIZAGEM E A INTERGERACIONALIDADE.
Quanto à intergeracionalidade:
As relações intergeracionais são interações que ocorrem entre indivíduos de diferentes gerações, ou seja, indivíduos em diferentes fases de vida, de diferentes contextos, eventos históricos, sociais e culturais determinantes das suas trajetórias e estilos de vida, que quando se encontram trocam experiências e conteúdos, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento mútuo (Martins, 2013).
Estamos perante a rejeição de uma relação restrita e limitada entre pessoas idosas e crianças, abordagem que ganhou terreno e prevalece em muitos programas ditos ou tidos por intergeracionais.
NÃO! A INTERGERACIONALIDADE NÃO É A RELAÇÃO ENTRE OS AVÓZINHOS E AS CRIANÇAS.
Por outro lado, associam-se nesta formulação interações e valor acrescentado, ou seja, em termos de resultado, emerge um processo de crescimento e de desenvolvimento mútuo.
O que está na origem deste campo peculiar das relações sociais não espontâneas é, por um lado, a partilha do mesmo espaço de tempo (cronológico) de pessoas muito jovens e de pessoas muito idosas, em consequência do significativo prolongamento do tempo de vida, e, por outro, um distanciamento geográfico e tecnológico que implica muitas vezes isolamento e afastamento das dinâmicas sociais correntes.
O facto de existirem espaços muito especializados para viver (a escola, o lar, a casa de repouso, as férias para grupos sociais determinados) e a evolução dos sistemas digitais de comunicação, provocam ruturas e redução de contactos que enfraquecem o sentido natural e espontâneo das relações entre gerações. Nessas ruturas aquela que surge como mais crítica prende-se com o valor atribuído à transmissão de conhecimentos pelos mais mais velhos e a sua secundarização face aos potentes meios de acesso à informação que os meios digitais proporcionam.
OS VELHOS JÁ NÃO SERIAM NECESSÁRIOS PARA TRANSMITIR CONHECIMENTOS, PARA ISSO AGORA EXISTE A JOVEM E FRESCA INTERNET
Quanto à aprendizagem
Podemos estabelecer um ponto de partida nesta matéria através da afirmação: aprende-se em todo e qualquer lugar e de todas as formas possíveis e inimagináveis.
Ou seja, a aprendizagem não é nem privilégio da escola nem de centros especializados de educação-formação. Podemos reclamar uma abordagem de diversidade, de amplitude espacial, tecnológica e metodológica, sem desvalorizar nenhum espaço, nem método.
Nesta matéria da aprendizagem na sua relação com a intergeracionalidade tenderíamos, no entanto, de uma forma genérica, a valorizar os processos baseados na experiência.
O que pode significar colocar a experiência no centro dos processos de aprendizagem desenvolvidos entre diferentes gerações?
Para responder a esta questão poderá ser útil distinguir as diferentes experiências que podem ser mobilizadas:
- a experiência vivida, que remete para o passado e para o campo das memórias de pessoas e de grupos;
- a experiência sistematizada e transferida ao longo dos tempos, inscrita em documentos, em suportes multimédia diversos, em bases de dados, em publicações;
- a experiência sedimentada através da progressão num campo profissional ou social, tendo por base uma evolução principalmente linear:
- a experiência peculiar, criativa e única em situações para as quais os saberes instituídos não fornecem uma resposta cabal;
- a experiência cenarizada, aquela que é provocada e organizada para facilitar encontros entre experiências e saberes diversos visando o intercâmbio e a partilha (formação – ação).
Sem ser exaustivo, numa tipologia que importa desenvolver e consolidar, podemos, desde já, estabelecer que a aprendizagem através da experiência exige ela própria uma dinâmica de co-construção pelos participantes, porque não existe, de forma estandardizada. um regulador de desníveis e de representações, o que implica assumir de forma categórica que todo e qualquer processo formativo, neste âmbito, é específico, peculiar e contingencial.
Que soluções formativas, que práticas promissoras, neste campo da aprendizagem intergeracional, podem ser mobilizadas no seio da Comunidade de Prática, e fora dela, e serem partilhadas com todos aqueles que desejam avançar nas suas práticas nesta área tão exigente?
Carlos Ribeiro | caixa de Mitos – EPALE 7 de dezembro 2020
