Da ansiedade financeira à literacia financeira


Autoria: Saskia Dr. Eschenbacher
Tradução: EPALE Portugal
O momento em que tudo mudou
Como muitos de nós, passei anos a evitar lidar com as minhas finanças. O coro familiar de mensagens da minha infância ecoava na minha cabeça: “Não tens jeito para isso”. Juntamente com as minhas próprias crenças limitadoras - “Não faço ideia do que são finanças” - dei por mim stressada com a ansiedade financeira e evitava temas como o planeamento da reforma.
A realidade não era que eu fosse intrinsecamente má com dinheiro. Estava simplesmente sobrecarregada.
Por isso, quando um amigo me recomendou consultar um consultor financeiro, senti-me inicialmente aliviada. Finalmente, outra pessoa poderia lidar com esta complexidade! Mas esse alívio rapidamente se transformou em desconfiança quando senti que o consultor poderia estar a aproveitar-se da minha ingenuidade financeira. Esta potencial exploração tornou-se a minha maior motivação.
Como investigadora, decidi fazer o que tinha sido treinada para fazer: investigar. Esta decisão transformou não só a minha conta bancária, mas toda a minha relação com o dinheiro.
A crise da literacia financeira na Europa
O que descobri durante o meu percurso de investigação foi simultaneamente tranquilizador e alarmante. A minha experiência pessoal reflete um problema muito mais vasto em toda a Europa, como revelado por um inquérito de 2023 sobre os níveis de literacia financeira na UE: apenas cerca de um quarto dos inquiridos respondeu corretamente a pelo menos quatro de cinco perguntas sobre conhecimentos financeiros básicos. De acordo com este relatório, apenas 45% dos europeus sabem como funcionam os juros compostos, apesar de serem fundamentais para as finanças pessoais e os objetivos de poupança a longo prazo.
O relatório revela grandes disparidades em termos de educação: cerca de metade dos europeus respondeu corretamente a apenas duas ou três perguntas sobre finanças, enquanto outro quarto considerou as perguntas particularmente difíceis, conseguindo responder corretamente a apenas uma ou a nenhuma.
Entre os países europeus, os Países Baixos, a Dinamarca, a Finlândia e a Estónia lideram em termos de literacia financeira, com cerca de quatro em cada dez inquiridos a revelarem conhecimentos financeiros elevados (43%, 40%, 40% e 39%, respetivamente). No entanto, mesmo nestes países com melhores resultados, mais de metade da população não possui conhecimentos financeiros adequados.
Para os educadores de adultos, estas estatísticas representam tanto um desafio como uma oportunidade. Então, porque é que nos debatemos com conceitos financeiros?
A Psicologia do Dinheiro
A resposta está na forma como os nossos cérebros estão conectados. A minha jornada começou com o livro The Psychology of Money, de Morgan Housel, que foi verdadeiramente alucinante. Housel (2020, p. 65) explica, por exemplo, porque é que os conceitos financeiros parecem tão difíceis: "O pensamento linear é muito mais intuitivo do que o pensamento exponencial. Se eu lhe pedir para calcular 8+8+8+8+8+8+8+8+8+8+8+8 na sua cabeça, pode fazê-lo em poucos segundos (são 72). Se lhe pedir para calcular 8×8×8×8×8×8×8×8×8×8×8, a sua cabeça irá explodir (são 134.217.728)."
As nossas mentes simplesmente não estão preparadas para lidar com a natureza exponencial dos juros compostos e do investimento a longo prazo. Não se trata de uma falha pessoal - é uma limitação humana que afeta até os mais instruídos de entre nós.
Consideremos Warren Buffett, um dos investidores mais bem-sucedidos da história. Como refere Housel (2020, p. 64), "A sua habilidade é investir, mas o seu segredo é o tempo. É assim que a capitalização funciona". Buffett começou a investir aos 10 anos de idade, dando aos juros compostos décadas para fazerem a sua magia.
Compreender esta barreira psicológica foi libertador, mas levantou outra questão crucial: como é que passamos da compreensão à ação?
À descoberta da sua vida rica
Depois de mergulhar em conteúdos de educadores financeiros como Nischa (@nischa no YouTube) e Vivian Tu (Your Rich BFF), peguei com relutância no livro de Ramit Sethi (2019) I Will Teach You to Be Rich. O título parecia demasiado simplista e senti-me um pouco envergonhada ao ir buscá-lo à minha livraria local. (Felizmente, o funcionário não se importou).
A filosofia central de Sethi (2019, p. 17) transformou o meu pensamento: “Gaste extravagantemente nas coisas que adora e corte impiedosamente nas coisas que não gosta.”, o que exigiu uma reflexão profunda sobre o que constitui a minha vida rica.
Para mim, acompanhar as despesas com o Intentional Spending Tracker de Nischa revelou uma verdade chocante sobre os meus gastos com chá verde (quase me fez ter um ataque cardíaco quando vi o total mensal). No entanto, também clarificou os meus valores: embora pudesse cortar nos smartphones sofisticados, nos carros e nas compras constantes de roupa, as viagens continuavam a ser inegociáveis. O meu safari de Ano Novo em balão de ar quente sobre o Serengeti, testemunhando a Grande Migração, era exatamente o tipo de experiência a que eu queria dar prioridade.
Qual é o aspeto da sua vida rica? O que é que lhe traz alegria? Como é que quer viver a sua vida?
Depois de ter definido a sua vida rica, o próximo desafio é torná-la financeiramente sustentável. É aqui que as abordagens orçamentais mais tradicionais falham - mas há outra forma.
O Plano de Gastos Conscientes: uma alternativa melhor ao orçamento
Em vez de se limitar a um orçamento tradicional, a abordagem de Sethi centra-se na intenção consciente. Segundo este autor, o orçamento tradicional muitas vezes falha porque se foca na restrição e não na intenção (como cortar todo o chá verde). O Plano de Gastos Conscientes de Sethi (PGC) oferece uma abordagem mais sustentável, dividindo o seu rendimento em quatro categorias. Aqui está um resumo passo-a-passo:
- Custos fixos (50-60% do salário líquido): as despesas essenciais, como a renda, os serviços essenciais e seguros. Acrescente uma margem de 15% - se as suas despesas totalizam 2.000 euros, reserve 2.300 euros.
- Investimentos (10% do salário líquido): Dinheiro para "o seu futuro" em contas de reforma. Tente aumentar este valor em 1% por ano.
- Poupança (5-10% do salário líquido): Fundos de emergência (comece com três a seis meses de despesas) e objetivos a curto prazo, como férias, prendas ou mesmo uma entrada para uma casa, se quiser.
- Gastos sem culpa (20-35% do salário líquido): Dinheiro destinado a ser gasto nas coisas que gosta - sem se sentir culpado.
Crie contas separadas para cada categoria e automatize as transferências após o dia de pagamento. Isto elimina a necessidade de força de vontade - o seu sistema faz o trabalho.
Antes de começar a investir, tenha em conta que: as comissões são o seu inimigo! Uma comissão de 1% ao longo de 50 anos custa 39% dos seus rendimentos; ao longo de 35 anos, continua a ser uma perda de 28%. É por isso que os bancos e os consultores financeiros não devem ser a principal fonte de educação financeira - eles lucram com a sua falta de conhecimento.
Agora que compreende a psicologia, definiu a sua ideia de uma vida rica, conhece o plano de despesas e está ciente da armadilha das taxas, pode estar a perguntar-se: por onde devo começar? Se ainda se sente sobrecarregado, aqui estão as boas notícias: o caminho a seguir é mais simples do que pensa.
Comece: O seu plano de ação
Conforte-se com o facto de saber que cada jornada financeira começa com um único passo. Siga esta sequência comprovada que Nischa oferece (rotinas do dia de pagamento):
- Calcule o custo de vida essencial (ter como objetivo menos de 60% do rendimento líquido)
- Poupe o equivalente a um mês de despesas essenciais
- Elimine as dívidas com juros elevados (qualquer coisa acima de 7%)
- Maximize a correspondência à pensão no local de trabalho (se disponível)
- )Construa o seu fundo de emergência (cobrindo até 6 meses de custos essenciais)
- Invista o resto
Lembre-se, não se trata de perfeição - trata-se de progresso. Cada passo em frente cria um impulso para o próximo.
Tem tudo para isso
A melhor altura para começar a sua jornada financeira foi há anos atrás. A segunda melhor altura é agora.
Como educadores de adultos, compreendemos o poder transformador da aprendizagem. A literacia financeira é simplesmente mais um conjunto de competências cruciais - que nos permite viver os nossos valores e criar a vida rica que imaginamos.
A minha jornada da ansiedade financeira para a confiança não foi apenas uma questão de números - foi uma questão de ultrapassar crenças limitadoras e de assumir o controlo do meu futuro. As estatísticas mostram que a maioria dos europeus tem dificuldades com a literacia financeira, pelo que faz parte da maioria e não da exceção.
Já tem tudo, pelo que consegue. E lembre-se: não está sozinho nesta viagem.