A Educação não-formal e o Envelhecimento Ativo: o caso das Universidades Seniores
Bruno Rebelo, autor do livro “Universidades Seniores: Uma visão sobre o Envelhecimento Ativo”, propõe-nos, neste artigo, uma reflexão sobre um tema que emerge cada vez mais como um dos centrais na gestão dos processos de aprendizagem não-formais na sociedade portuguesa. Estabelece uma relação com outros temas como a cultura, o lazer, ou a saúde, mas convida-nos acima de tudo a observar a importância que as Universidades Seniores têm hoje na chamada literacia digital dos mais idosos. Carlos Ribeiro / Caixa de Mitos
"A educação não-formal é um processo de aprendizagem participativa e voluntária que não visa formalmente a certificação, embora seja tendencialmente estruturada com vista a atingir objetivos educativos, podendo ocorrer em diversos contextos, como por exemplo, em organizações ou grupos da sociedade civil" (CCE, 2000: 9). Conforme Veloso (2011), devido à heterogeneidade dos contextos em que ocorrem, aos conteúdos transmitidos e às metodologias utilizadas, a educação não-formal foi potenciadora de ter como público-alvo os seniores (Veloso, 2011: 21). Nesse sentido, no que concerne aos idosos, as ações de educação de adultos devem garantir a possibilidade de aprenderem a usufruir dos tempos livres, a viverem com saúde conservando as faculdades físicas e intelectuais, a continuarem a participar na vida coletiva e a terem acesso ao conhecimento e a atividades que não puderam aceder ao longo da vida (UNESCO, 1976: 6).
E qual é o contributo da educação não-formal para o Envelhecimento Ativo?
O Envelhecimento Ativo está definitivamente na agenda internacional e visa potenciar as oportunidades para a saúde, participação e segurança, promovendo a qualidade de vida das pessoas à medida que envelhecem, tal como defende a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2002: 12). É um tema que tem vindo a revestir-se de um crescente interesse no espaço público português, ao qual se tem associado a importância das Universidades Seniores que são mais de 300 em Portugal[2]e que são “respostas socioeducativas que visam criar e dinamizar regularmente atividades nas áreas sociais, culturais, do conhecimento, do saber e de convívio, a partir dos 50 anos de idade” (Resolução do Conselho de Ministros, 76/2016).
Intrinsecamente ligada às Universidades Seniores está a aprendizagem ao longo da vida que, através da educação não-formal, gera benefícios para os indivíduos que as frequentam, refletindo-se ao nível da saúde (física, cognitiva e emocional), na participação social (voluntariado, enriquecimento cultural, recetividade e adaptação à mudança, integração social e cidadania) e na valorização social (junto da família, dos jovens e da comunidade em geral) (Rebelo, 2015).
Um exemplo de educação não-formal nas Universidades Seniores está relacionado com as aulas de Tecnologias de Informação e Comunicação (ex. Informática e Redes Sociais). Os indivíduos estão integrados numa sociedade da informação e do conhecimento, onde as Tecnologias de Informação e Comunicação assumem uma presença diária na vida das pessoas, pelo que a sua aprendizagem e adaptação são cruciais para evitar a infoexclusão. Castells (2007), referindo-se à importância da internet menciona que “a centralidade da internet em muitas áreas da atividade social, económica e política converte-se em marginalidade para aqueles que não têm ou possuem um acesso limitado à rede, assim como para aqueles que não são capazes de tirar proveito dela” (Castells, 2007: 287).
Assim, a sociedade cria padrões de referência, em que os jovens procuram aumentar a sua qualificação como forma de potenciarem a conquista de um emprego, os que estão no ativo necessitam de atualizar os seus conhecimentos fruto das exigências do mercado de trabalho e para os que saíram da atividade profissional poderá ser uma oportunidade para regressarem à escola/universidade com o objetivo de recuperar, atualizar ou adquirir novos conhecimentos. Remete-se assim para um conceito de aprendizagem ao longo da vida, onde os indivíduos são os agentes da própria educação, cujo ensino e aprendizagem devem ir para além da presença na escola, estendendo-se ao longo da vida e permitindo o pleno desenvolvimento do conhecimento e da personalidade (UNESCO, 1976: 2).
A adesão dos seniores às Tecnologias de Informação e Comunicação tem conhecido uma evolução favorável na sociedade portuguesa, na medida em que a faixa etária dos 65-74 anos que utiliza a internet aumentou de 10% em 2010, para os 31% em 2017 e que utiliza o computador aumentou de 13% em 2010, para os 28% em 2017[3]. Por conseguinte, a educação não-formal através das Universidades Seniores, pode ter um papel relevante para o desenvolvimento de competências digitais que permitam alavancar o acesso e partilha de informação, contribuindo para os indivíduos estarem informados e poderem participar na sociedade enquanto cidadãos de plenos direitos.
Em linha com a aprendizagem ao longo da vida, também o processo de envelhecimento deve ser entendido ao longo do percurso de vida, sendo tecido e entrelaçado pela Educação, Trabalho e Lazer, revestindo-se de um manto fértil para a afirmação da Educação não-formal.
Referências bibliográficas
Castells, Manuel (2007), A Galáxia Internet: Reflexões sobre a Internet, Negócios e Sociedade, 2ª edição, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.
Comissão das Comunidades Europeias (2000), Memorando sobre Educação e Formação ao Longo da Vida, Bruxelas.
Rebelo, Bruno (2015), Universidades Seniores: Uma visão sobre o Envelhecimento Ativo, Porto, Edição Mais Leituras.
Resolução do Conselho de Ministros, 76/2016.
UNESCO (1976), Recommendation on the development of adult education, Nairobi.
Veloso, Esmeraldina (2011), Vidas Depois da Reforma, Lisboa, Coisas de Ler Edições.
World Health Organization (2002), Active Ageing: A Policy Framework.
Nota biográfica
Bruno Rebelo
Autor do livro “Universidades Seniores: Uma visão sobre o Envelhecimento Ativo”. Gestor de Recursos Humanos e Doutorando em Sociologia no ISCTE, com investigação sobre os “Reformados e os Modos de relação com a Reforma”.
[1]Este artigo baseia-se no livro “Universidades Seniores: Uma visão sobre o Envelhecimento Ativo”, cujo autor é o mesmo (Rebelo, 2015).
[2]Fonte: www.rutis.pt(consultado a 12-04-2019).
[3]Fonte: PORDATA: Indivíduos com 16 e mais anos que utilizam computador e Internet em % do total de indivíduos: por grupo etário (consultado a 12-04-2019)".
Artigo partilhado por Bruno Rebelo para alimentar a reflexão e o debate na Plataforma EPALE / Carlos Ribeiro- Caixa de Mitos
Non-Formal Education and Active Aging. Portugal case