Entrevista com Maud Gari, Secretária-Geral do LABA, um stakeholder europeu no domínio da cooperação cultural responsável
Autoria: Agência Erasmus + França Educaçao e Formação
Tradução: EPALE Portugal
EPALE França: O que é o LABA?
Maud Gari: O LABA foi fundado em 2013 como um centro de competências e agora está sediado em Bordeaux. Elaboramos projetos de cooperação europeia focamos na inovação social e na educação nos setores criativos e culturais. O LABA é formado por cerca de dez pessoas, a maioria das quais já trabalhou no setor cultural - trabalhei no setor da música durante 15 anos. Vindo de formações variadas e complementares, juntámo-nos ao LABA para trazer uma dimensão internacional a projetos desenvolvidos em grande parte com parceiros na Nouvelle Aquitaine. Implementamos programas de formação e ferramentas inovadoras, como mentoria para mulheres empreendedoras, carreiras na transição ecológica e economia circular, sempre com enfoque artístico e cultural. Mobilizámos vários programas de financiamento para implementar os nossos projetos: programas Erasmus+, Europa Criativa e Fundos Estruturais, que visam implementar novas soluções em determinadas áreas para ajudar as pessoas a encontrarem trabalho, a obterem formação, etc.
EPALE França: O que é que a vertente europeia traz aos seus projetos?
Maud Gari: A vertente europeia dá-nos a oportunidade de ver o que se passa noutros lugares, de trocar ideias e aprender com iniciativas interessantes que não existem em França. O nosso primeiro projeto europeu de mentoria para mulheres foi uma ideia que me surgiu depois de uma viagem a Berlim, em 2016. Continuamos a ter contacto com a organização que me acolheu. Há também um interesse profissional e pessoal: ir à Grécia para ver como as ONG trabalham no terreno com jovens ou vítimas de catástrofes abriu-me os olhos para outras formas de trabalhar.
Hoje, o LABA possui uma rede de mais de 200 organizações em 30 países diferentes. Trabalhamos com algumas regularmente: universidades, associações, artistas, na Europa e fora dela: temos um projeto com pessoas que trabalham na música na China, em conjunto com o conselho regional da Nouvelle Aquitaine.
EPALE França: Como chegou a esta função?
Maud Gari: Trabalhei no setor da música durante 15 anos. Estive envolvida em projetos europeus sem me dar conta e vi como era possível estruturá-los e candidatar-me a apoios para desenvolver iniciativas. Também sou copresidente da Slowfest, uma associação que produz concertos com baixa emissões de carbono e sensibiliza para a necessidade de uma transição ecológica na indústria dos eventos. O LABA permitiu-nos estabelecer contactos com pessoas em Itália e na Bélgica, para que possamos ver o que se passa noutros lugares. O setor cultural em si não tem necessariamente um grande impacto carbónico, mas tem uma voz forte: quando se lida com artistas, a mensagem é melhor transmitida, de uma forma mais agradável, chega a mais pessoas e ajuda a construir uma comunidade.
No LABA trabalhamos muito com estruturas culturais que, muitas vezes, desconhecem o que a Europa pode fazer por estas, especialmente em França, onde o nosso sistema é autossustentável. O nosso papel é dar-lhes uma perspetiva internacional, não necessariamente em termos de negócios, mas em termos de pessoas. Por vezes, o setor cultural não é particularmente moderno no que diz respeito a estas questões.
EPALE França: Pode dar alguns exemplos dos projetos em que trabalha?
Maud Gari: A questão do empreendedorismo para pessoas sub-representadas é importante para nós há anos. Atualmente, com o projeto “Mosaico, investimento inclusivo para fundadores sub-representados”, estamos a trabalhar no acesso ao financiamento para empreendedores que acabaram de chegar a França, que não são homens brancos, mas sim pessoas racializadas, mulheres, pessoas que regressam de licença de maternidade, etc. Estamos a executar este projeto em parceria com Singa, com neerlandeses, romenos, alemães e irlandeses.
A Europa está a trabalhar na estruturação do setor: empreendedorismo, consolidação de microempresas, modelos de negócio, desenvolvimento de redes, enquanto os projetos apresentados às autoridades locais estão mais preocupados com conteúdos artísticos. É complementar.
EPALE França: E em que tipo de projetos está a trabalhar com o Erasmus+?
Maud Gari: Temos vários projetos apoiados pela Erasmus+ Educação e pela Erasmus+ Juventude. Temos um projeto Erasmus + Educação, #ENDOs, que envolve olhar para a endometriose numa perspetiva cultural, reunindo pacientes, cuidadores e artistas para chamar a atenção para esta doença silenciada. Vamos realizar experiências em hospitais e organizar uma exposição em Bordéus onde artistas pacientes irão falar sobre a sua doença. Iremos montar uma plataforma de educação e consciencialização sobre este assunto.
Com a Erasmus+ Juventude, estamos a implementar um projeto em parceria com o espaço Rocher de Palmer, em Bordéus. Este projeto reúne organizações de diferentes países, incluindo uma universidade na Ucrânia e organizações na Bósnia e na Alemanha. O objetivo é utilizar a música como veículo para a paz nas escolas, em associação com locais, e formar educadores para utilizarem a música para educar e aumentar a consciencialização para a paz.
EPALE França: Como planeia contribuir para a EPALE?
Maud Gari: Para nós, a EPALE está intimamente ligada ao mundo da educação. Usamo-la, mas não o suficiente. Durante estes seis meses, gostaria de dar um contributo muito mais sustentado, mantendo na plataforma uma espécie de diário de tudo o que estamos a fazer, de todos os projetos em que estamos envolvidos, para mostrar como vai a nossa cooperação europeia e para criar conexões. Pretendo aproveitar a oportunidade para expandir a minha rede, para ver o que está a acontecer noutros lugares e ficar a par dos últimos desenvolvimentos.
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La richesse de la dimension européenne