Resumo da discussão da EPALE: impulsionar as competências básicas no Ano Europeu das Competências

Autoria: EBSN CBS Editor
Tradução: EPALE Portugal
A EPALE realizou, no dia 27 de junho, uma discussão online intitulada Impulsionar as competências básicas no Ano Europeu das Competências, em colaboração com a Rede Europeia de Competências Básicas (European Basic Skills Network - EBSN). A discussão escrita foi antecedida por uma transmissão ao vivo com especialistas convidados: Sam Duncan, Professora Associada em Educação de Adultos e Literacia no Instituto de Educação da University College London, e Estera Možina, em representação do Instituto Esloveno para a Educação de Adultos (Slovenian Institute for Adult Education - SIAE). A transmissão ao vivo e a discussão que se seguiram foram moderadas por Tamás Harangozó, da Rede Europeia de Competências Básicas. O evento foi organizado com o intuito de dedicar tempo e espaço à discussão sobre o papel das competências básicas dos adultos no contexto do Ano Europeu das Competências.
A abertura foi dedicada a um dos temas mais prementes no desenvolvimento de programas de competências básicas para adultos, nomeadamente a profissionalização de professores, de instrutores e de formadores especializados em competências básicas para adultos (por exemplo, literacia, numeracia, competências digitais, etc.). O estatuto profissional destes professores e formadores não é assegurado em todos os países e, como tal, enfrentam diferentes desafios.
Sam Duncan apresentou o seu trabalho com o projeto Prison Reading Group, que visa desenvolver círculos de leitura em prisões inglesas especificamente para leitores adultos 'emergentes' (ou recentes), ou seja, para pessoas que sentem que não sabem ler. O objetivo é ajudá-las a praticarem, a desfrutarem e a discutirem formas de leitura. A equipa do projeto concluiu recentemente um projeto piloto em 2 prisões.
Questionámos Estera Možina sobre o trabalho recente do SIAE que aborda a ligação entre identidade profissional e pessoal de professores que trabalham em educação de adultos. O foco da discussão foi o papel que a identidade profissional desempenha na motivação dos professores para investirem no seu próprio desenvolvimento profissional e de que forma a participação na investigação-ação pode melhorar a autoeficácia dos professores no que diz respeito ao desenvolvimento profissional.
Os principais pontos a retirar da sessão ao vivo foram os seguintes:
- Os programas de competências básicas são contextuais - espera-se que seu conteúdo e os facilitadores, os instrutores que trabalham nessas configurações, considerem o contexto
- Os formadores que trabalham no desenvolvimento de competências básicas já chegam ao ensino com um conjunto de competências que podem ser adquiridas durante a formação - os cursos de desenvolvimento profissional precisam de ter em consideração o conhecimento prévio e a experiência destas pessoas.
- A identidade dos professores e dos formadores é influenciada por fatores profissionais, mas também pessoais. A identidade profissional e a pessoal devem estar em equilíbrio para tornar os formadores mais resilientes aos desafios que enfrentam no trabalho.
- A participação é um elemento importante que resulta em motivação. A metodologia de investigação-ação cuidadosamente concebida pode contribuir para um comportamento participativo de carreira produtivo e de autorrealização.
A discussão por escrito, em direto, na EPALE durou até às 16:00 CEST (15:00 de Portugal Continental) e levou a vários aspetos cruciais que vale a pena considerar no Ano Europeu das Competências. A propósito, os comentários ainda estão abertos!
Os formadores de competências básicas enfrentam expetativas complexas
Falar de competências em geral é um assunto complexo, especialmente quando se trata de competências básicas. Diferentes stakeholders usam abordagens diferentes quando descrevem quais as competências essenciais para certos propósitos (por exemplo, competências para a vida, competências para o século XXI, competências básicas, etc.). Os participantes da discussão concluíram que definir competências básicas é difícil, pois todos consideram diferentes competências como básicas, dependendo dos seus objetivos profissionais, o que coloca um grande desafio na conceção de percursos de profissionalização para formadores de adultos, uma vez que as expetativas em relação aos mesmos aumentam significativamente quando se consideram todas as diferentes abordagens.
Um professor é como um cientista e um artista numa só pessoa com o necessário conhecimento, mas a aplicação do conhecimento em cada caso específico é uma arte – menciona Elga.
Percursos de aprendizagem flexíveis
As complexas expetativas em relação aos professores e formadores de competências básicas não advêm apenas da natureza diversificada das competências básicas, mas também dos diferentes locais onde os programas de competências básicas podem ter lugar, por exemplo, nas prisões, em casa, no trabalho, em instituições sociais e públicas. Isto requere um esquema de desenvolvimento profissional flexível que possa assumir um formato modular para formadores e professores no qual tenham autonomia para personalizar o seu próprio percurso de profissionalização com base nas suas necessidades. Este pode ser apoiado por iniciativas políticas atuais, como a abordagem europeia às microcredenciais, que podem ser usadas para criar confiança e soluções flexíveis de certificação. Um projeto da UE que segue essa lógica modular com o uso de microcredenciais é a Série de Desenvolvimento Profissional da EBSN, que disponibiliza 6 cursos online com recursos de educação aberta com um crachá digital concedido aos que concluírem com sucesso um ou mais cursos.
As competências básicas representam uma porta de acesso para a cidadania ativa
Os participantes da discussão concordaram que a profissionalização de professores e formadores é essencial, uma vez que as competências básicas servem como portas de entrada para a coesão social e a cidadania ativa.
As competências básicas também capacitam os indivíduos para participarem ativamente na sociedade. A leitura e a escrita permitem que os indivíduos participem em questões cívicas, compreendam os seus direitos e responsabilidades e expressem as suas opiniões. (Peter)
É impossível ter sucesso na sociedade sem ler, escrever e TIC. Mas rapidamente descobrimos que isso não é suficiente. Também precisamos de competências específicas e técnicas relacionadas com o trabalho, bem como competências transversais para diferentes domínios das nossas vidas. Toda esta conjugação é um enorme desafio na profissionalização dos formadores de competências básicas, sobretudo quando se trata de adultos. (Dora)
As competências sociais e emocionais estão a tornar-se cada vez mais vitais para todas as dimensões da vida num mundo que muda tão rapidamente. Ser social e emocionalmente competente ajuda um indivíduo a obter bem-estar geral, a sair-se bem no trabalho e a continuar a aprender ao longo da sua vida. (Liga)
As competências básicas são a base para a aprendizagem ao longo da vida e são fundamentais para que os indivíduos naveguem em vários aspetos da vida de forma eficaz. As competências de literacia, de numeracia e de literacia digital permitem que os indivíduos acedam a informação, comuniquem de maneira eficaz e envolvam-se com as tecnologias modernas. Essas competências são essenciais para o crescimento pessoal, para oportunidades de emprego e para a participação cívica. No entanto, quero chamar a atenção para o facto de, hoje em dia, uma das competências básicas ser a capacidade de aprender. (Egija)
As competências básicas são pessoais, não são apenas cognitivas
Vários comentários apontaram para a necessidade de reconhecer competências interpessoais e pessoais nas iniciativas de competências básicas. A formação para se tornar ativo no mercado de trabalho com foco nas competências baseadas no trabalho é importante, mas um grande número de adultos com necessidades básicas de competências requer uma abordagem mais holística que tenha em consideração as competências (inter)pessoais para o desenvolvimento da capacidade de gestão da própria vida com sucesso. As competências básicas fornecem uma base sólida para a aprendizagem contínua e o desenvolvimento pessoal (Sanita). Para o efeito, foi mencionado o quadro da UE denominado LifeComp, que representa um âmbito mais alargado às competências: O quadro europeu de competências essenciais pessoais, sociais e de aprender a aprender.
Poderá ser interessante verificar como o LifeComp pode desempenhar um papel na criação de programas de competências básicas para adultos e também noutros programas de educação de adultos.
Os participantes enfatizaram que, para o sucesso dos programas de competências básicas, é imperativo que tanto os formadores quanto o grupo-alvo estejam envolvidos no processo de planeamento. Por parte dos formadores e professores, isto requer uma abordagem reflexiva, na prática.
A responsabilidade pelo desenvolvimento de competências básicas é partilhada entre os setores do emprego, da educação e formação e social
Enfrentar todos os desafios sociais que (parcial ou totalmente) derivam da falta de competências suficientes para ler e escrever, para executar tarefas numéricas ou digitais básicas não deve ser da responsabilidade dos sistemas de educação e formação. Necessita de uma abordagem multissetorial, envolvendo iniciativas dos setores do emprego, social e da saúde. Os formadores e os professores, bem como os atores de outros setores precisam de adaptar o seu paradigma à auto perceção dos adultos, conforme proposto por Gisela.
As competências básicas dos adultos estão intimamente ligadas ao seu habitus - ou seja, à maneira como os adultos de determinada origem percebem e reagem ao mundo. Como educadores ou funcionários, tendemos a concetualizar o debate e os programas proporcionados em termos do nosso próprio habitus e simplesmente assumir que tal corresponde ao entendimento e aos interesses das pessoas que consideramos terem necessidade dessas competências básicas. Isso, infelizmente, raramente sucede.
Foram mencionados dois projetos interessantes a este respeito:
- O Programa Young Service Steward é um Fundo de Financiamento do Espaço Económico Europeu e da Noruega ao Projeto de Emprego Juvenil implementado por um consórcio internacional com organizações da Hungria – Roménia – Espanha, com apoio profissional da Noruega. Destina-se a prevenir a crescente lacuna de competências entre os programas de ativação e as necessidades de competências do mercado de trabalho. O Programa desenvolve o emprego local com serviços assistenciais e ambientais. Centra-se em duas áreas de desenvolvimento:
- Apoiar jovens NEET com idades entre os 25 e 29 anos através de uma atualização de competências de 360°, com uma combinação de competências digitais, de competências para a vida, de aconselhamento e emprego num sistema de oferta flexível.
- Estabelecer acordos locais de emprego entre os principais stakeholders dos Serviços Públicos de Emprego/ativação pública/privada para fazer uma atualização de competências de 360°.
- O projeto REDEAL visa melhorar as oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para adultos em áreas desfavorecidas, desenvolvendo a infraestrutura e serviços de educação de adultos a nível comunitário. O projeto disponibiliza oportunidades de profissionalização para formadores de adultos no envolvimento de adultos desfavorecidos.